Divórcio e Recasamento

Capítulo Treze (Chapter Thirteen)

Os temas de divórcio e recasamento são sempre debatidos entre cristãos sinceros. Duas perguntas fundamentais formam a base deste debate: (1) Quando o divórcio é permitido aos olhos de Deus? e (2) Quando o recasamento é permitido aos olhos de Deus? A maioria das denominações e igrejas independentes tem posições doutrinarias oficiais sobre o que é permitido e o que não é, baseadas em suas interpretações particulares das Escrituras. Devemos respeitr a todas por terem convicções e viverem por elas — se suas convicções forem baseadas em seu amor por Deus. Contudo, com certeza seria melhor se todos nós tivéssemos convicções 100% bíblicas. O ministro discipulador não quer ensinar o que não alcança o propósito de Deus. Ele também não quer colocar cargas sobre as pessoas que Deus nunca quis que carregassem. Com esse objetivo em mente, farei o melhor para interpretar as Escrituras neste tópico polêmico e deixá-lo decidir se concorda ou não.

Deixe-me começar dizendo-lhe que estou, assim como você, aflito pelo divórcio estar tão implacável no mundo hoje. Pior ainda, é o fato de muitos cristãos professos estarem se divorciando, incluindo aqueles no ministério. Esta é uma grande tragédia. Devemos fazer todo o possível para impedir que isto aconteça mais ainda, e a melhor solução para o problema do divórcio é pregar o evangelho e chamar pessoas ao arrependimento. Quando duas pessoas casadas são genuinamente renascidas e ambas seguem ao Senhor, nunca se divorciarão. O ministro discipulador fará todo o possível para que seu próprio casamento seja forte, sabendo que seu exemplo é seu meio mais influente de ensinar.

Deixe-me também adicionar que sou casado e feliz há mais de vinte e cinco anos, e que antes disso nunca fui casado. Não posso me imaginar divorciado. Portanto, não tenho motivo para amaciar passagens difíceis sobre o divórcio pelo meu próprio bem. Contudo, tenho grande simpatia por pessoas divorciadas, sabendo que eu mesmo poderia ter feito uma má decisão quando jovem, casando-me com alguém que, mais tarde, seria tentado a pedir o divórcio, ou com alguém menos tolerante comigo que a maravilhosa mulher com quem me casei. Em outras palavras, poderia ter me divorciado, mas isso não aconteceu pela graça de Deus. Acho que a maioria das pessoas casadas pode se identificar com o que estou dizendo; portanto, devemos nos refrear de jogar pedras em pessoas divorciadas. Quem somos nós, que temos casamentos desgastados, para acusar pessoas divorciadas, sem termos ideia do que possam ter passado? Deus pode considerá-los muito mais santos que nós, já que sabe que nós, debaixo das mesmas circunstâncias, poderíamos ter nos divorciado muito antes.

Ninguém se casa esperando se divorciar, e acho que ninguém odeia mais o divórcio que aqueles que sofreram por causa dele. Portanto, devemos ajudar pessoas casadas a continuarem casadas, e pessoas divorciadas a encontrarem a graça que Deus estiver oferecendo. É neste espírito que escrevo.

Farei o possível para permitir que passagens interpretem passagens. Percebi que versículos sobre esse assunto são muitas vezes interpretados de tal modo, que contradizem outras passagens, que é uma indicação certa que tais versículos foram mal-interpretados, pelo menos em parte.

Uma Base (A Foundation)

Vamos começar com uma verdade fundamental que todos possamos concordar. A mais fundamental é que as Escrituras afirmam que Deus é contra o divórcio em geral. Durante um tempo em que homens israelitas estavam se divorciando de suas esposas, Ele declarou através do profeta Malaquias:

“Eu odeio o divórcio…e também odeio homem que se cobre de violência como se cobre de roupas…Por isso, tenham bom senso; não sejam infiéis” (Ml. 2:16).

Isso não deve surpreender alguém que conheça algo sobre o caráter amoroso e justo de Deus, ou alguém que saiba algo sobre como o divórcio danifica maridos, esposas e crianças. Teríamos que questionar o caráter moral de qualquer um que fosse a favor do divórcio de modo geral. Deus é amor (veja 1 Jo. 4:8) e, portanto, odeia o divórcio.

Uma vez, alguns fariseus fizeram uma pergunta a Jesus sobre a legalidade do divórcio “por qualquer motivo”. Sua resposta revela Sua reprovação ao divórcio. Aliás, o divórcio nunca foi Sua intenção para alguém:

Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?” Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe” (Mt. 19:3-6).

Historicamente, sabemos que existiam duas linhas de pensamento entre os líderes religiosos judeus nos dias de Jesus. Examinaremos estas duas linhas mais detalhadamente mais tarde; mas é suficiente dizer, por enquanto, que uma era conservadora e a outra liberal. Os conservadores acreditavam que era permitido que um homem se divorciasse de sua esposa somente por sérias razões morais. Já os liberais acreditavam que um homem podia se divorciar por qualquer motivo, incluindo encontrar uma mulher mais atraente. Essas convicções contraditórias foram a base para a pergunta dos fariseus a Jesus.

Jesus recorreu aos versículos das Escrituras, às primeiras passagens de Gênesis que mostram que o plano original de Deus era unir homem e mulher permanentemente, e não temporariamente. Moisés declarou que Deus criou os dois sexos tendo o casamento em mente, e que este é um relacionamento tão significante que se torna o mais importante de todos. Uma vez que é oficializado, é mais importante até que o relacionamento de alguém com seus pais. Os homens deixam seus pais para se unirem a suas esposas. E depois, então, a união sexual entre homem e mulher mostra sua unidade ordenada por Deus.

Obviamente, tal relacionamento, que resulta em filhos, não foi intencionado por Deus para durar temporariamente, e sim permanentemente. Eu acho que o tom da resposta de Jesus aos fariseus indicava Sua grande decepção por tal pergunta ter sido feita. Com certeza, Deus não queria que homens se divorciassem de suas esposas “por qualquer motivo”.

É claro que Deus queria que ninguém pecasse, de modo algum; mas todos pecamos. Com grande misericórdia, Deus tomou providências para nos resgatar da escravidão do pecado. Além do mais, Ele tem coisas para nos dizer depois de termos feito o que Ele não queria que fizéssemos. Da mesma maneira, Deus nunca quis que alguém se divorciasse, mas o divórcio era inevitável entre humanos não submissos a Deus. Ele não ficou surpreso com o primeiro divórcio ou com os milhões subsequentes. E, portanto, Ele não só declara Seu ódio pelo divórcio, mas também tem algo a dizer às pessoas depois de terem se divorciado.

No Princípio (In the Beginning)

Com este alicerce posto, podemos começar a explorar mais especificamente o que Deus declarou sobre divórcio e recasamento. Já que as afirmações mais polêmicas sobre o divórcio e recasamento são ditas por Jesus aos israelitas, nos ajudará estudarmos primeiro o que Deus disse há centenas de anos antes sobre o mesmo assunto aos israelitas. Se acharmos que o que Deus disse através de Moisés e o que disse através de Jesus são contraditórios, podemos ter certeza que ou a Lei de Deus mudou, ou estamos interpretando mal algo dito por Moisés ou Jesus. Então, vamos começar com o que Deus revelou primeiro a respeito do divórcio e recasamento.

Já mencionei a passagem em Gênesis 2 que, de acordo com Jesus, tem alguma relevância ao assunto do divórcio. Desta vez, vamos lê-la diretamente da descrição de Gênesis:

Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a levou até ele. Disse então o homem: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada”. Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne (Gn. 2:22-24).

Então, esta é a origem do casamento. Deus fez a primeira mulher do primeiro homem e para o primeiro homem, e a levou a ele pessoalmente. Nas palavras de Jesus, “Deus [os] uniu” (Mt. 19:6, ênfase adicionada). Este primeiro casamento ordenado por Deus estabeleceu o modelo para todos os casamentos subsequentes. Deus cria, mais ou menos, o mesmo número de mulheres que homens, e os cria para que se sintam atraídos ao sexo oposto. Assim, pode ser dito que Deus ainda providencia casamentos em grande escala (mesmo que existam muitos mais possíveis companheiros para cada indivíduo que existia para Adão e Eva). Portanto, como Jesus disse, nenhum humano deve separar o que Deus uniu. Não era a intenção de Deus que o casal original tivesse vidas separadas, mas que encontrassem bênçãos vivendo juntos em dependência mútua. A violação da vontade tão claramente revelada de Deus, constituiria pecado. Dessa maneira, desde o segundo capítulo da Bíblia, é estabelecido o fato que o divórcio não era a intenção de Deus para casamento algum.

A Lei de Deus Escrita em Corações (God’s Law Written in Hearts)

Também gostaria de sugerir que, mesmo aqueles que nunca leram o segundo capítulo de Gênesis, sabem instintivamente que o divórcio é errado, já que a aliança de casamento para a vida toda é praticada em muitas culturas pagãs, onde o povo não tem conhecimento bíblico. Como Paulo escreveu em sua carta aos Romanos:

De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os (Rm. 2:14-15).

O código de ética de Deus está escrito em cada coração humano. Aliás, este código de ética que fala através da consciência, é toda a lei que Deus deu a qualquer um (exceto ao povo de Israel) de Adão até os tempos de Jesus. Qualquer um que esteja mesmo considerando um divórcio verá que precisa lidar com sua consciência, e o único modo de poder superá-la é encontrando uma boa justificativa para o divórcio. Se continuar com o divórcio sem uma boa justificativa, sua consciência o condenará, mesmo que possa reprimi-la.

Desde que sabemos, durante vinte e sete gerações, de Adão até a entrega da Lei de Moisés a Israel, por volta de 1440 d.c., a lei da consciência era toda a revelação que Deus havia dado a qualquer um, incluindo aos israelitas, a respeito do divórcio e recasamento; Deus considerou isso suficiente. (Lembre-se que Moisés não escreveu o registro da criação de Gênesis 2 até o tempo do Êxodo.) Com certeza, parece razoável pensar que durante estas vinte e sete gerações antes da Lei Mosaica, que inclui o tempo do dilúvio de Noé, alguns dos milhões de casamentos durante aquelas centenas de anos acabaram em divórcio. Também parece razoável concluir que Deus, que nunca muda, estava disposto a perdoar aqueles que eram culpados pelo divórcio se confessassem seus pecados e se arrependessem. Estamos certos de que pessoas podiam ser salvas ou declaradas santas por Deus, antes da Lei de Moisés ser entregue, assim como foi com Abraão, através de sua fé (veja Rm. 4:1-12). Se pessoas podiam ser declaradas santas através de sua fé desde Adão até Moisés, isso significa que podiam ser perdoadas por qualquer coisa, incluindo pecado referente ao divórcio. Portanto, enquanto começamos a sondar o assunto de divórcio e recasamento, eu me pergunto: Pessoas culpadas de divórcio antes da Lei Mosaica e que receberam perdão de Deus eram exortadas por suas consciências (já que não havia lei escrita) que se recasassem seriam culpadas? Estou somente propondo uma pergunta.

E as vítimas do divórcio que não cometeram pecado, aqueles que se divorciaram sem culpa, somente por causa de cônjuges egoístas? A consciência deles os proibiria de recasar? Isso me parece improvável. Se um marido abandonasse sua esposa por outra mulher, o que a levaria a pensar que não teria direito a um recasamento? O divórcio não foi culpa dela.

A Lei de Moisés (The Law of Moses)

É somente no terceiro livro da Bíblia que encontramos divórcio e recasamento mencionados especificamente. Está contido na Lei de Moisés como uma proibição contra sacerdotes casarem-se com mulheres divorciadas:

Não poderão tomar por mulher uma prostituta, uma moça que tenha perdido a virgindade, ou uma mulher divorciada do seu marido, porque o sacerdote é santo ao seu Deus (Lv. 21:7).

Em lugar algum da Lei de Moisés há tal proibição dirigida à população geral de homens israelitas. Mais adiante, o versículo citado indica que (1) havia mulheres israelitas divorciadas e (2) não há nada de errado com homens israelitas não-sacerdotais casando-se com mulheres que foram previamente casadas. A lei citada acima se aplica somente a sacerdotes e mulheres divorciadas que possam se casar com sacerdotes. Nada havia de errado, de acordo com a Lei de Moisés, com qualquer mulher divorciada recasando-se, desde que não se casasse com um sacerdote. Nada havia de errado com qualquer homem, com exceção sacerdotes, casando-se com uma mulher divorciada.

Era requerido que o sumo sacerdote (talvez um tipo supremo de Cristo) vivesse em padrões ainda mais altos que os sacerdotes normais; não lhe era permitido nem que se casasse com uma viúva. Lemos alguns versículos mais adiante em Levítico:

Não poderá ser viúva, nem divorciada, nem moça que perdeu a virgindade, nem prostituta, mas terá que ser uma virgem, do seu próprio povo (Lv. 21:14).

Esse versículo prova que era pecado que todas as viúvas israelitas se recasassem ou que era pecado para qualquer e todo homem israelita se casar com uma viúva? Não, com certeza não. Na verdade, esse versículo indica fortemente que não seria errado que qualquer viúva se casasse com qualquer homem, desde que não fosse o sumo sacerdote, e indica fortemente que qualquer homem, além do sumo sacerdote poderia se casar com uma viúva. Outras passagens afirmam a legitimação completa de viúvas recasando-se (veja Rm. 7:2-3; 1 Tm. 5:14).

Esse versículo também indica, juntamente com o que consideramos anteriormente (Lv. 21:7), que não seria errado que qualquer homem israelita (além do sacerdote ou sumo sacerdote) se casar com uma mulher divorciada ou mesmo uma mulher que não fosse virgem, “prostituta”. Do mesmo modo, implica que debaixo da Lei de Moisés, não havia nada de errado com uma mulher divorciada recasar-se ou com uma “prostituta” casar-se, desde que não se casasse com um sacerdote. Deus deu, graciosamente, a adúlteros e divorciados outra chance, mesmo sendo contra ambos, fornicação e divórcio.

Uma Segunda Proibição Específica Contra Recasamento (A Second Specific Prohibition Against Remarriage)

Quantas “segunda chances” Deus deu a mulheres divorciadas? Devemos concluir que Ele deu a mulheres divorciadas somente mais uma chance debaixo da Lei de Moisés, permitindo somente um recasamento? Essa seria uma conclusão errada. Lemos mais tarde na Lei de Moisés:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora. Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem, e este não gostar mais dela, lhe dará certidão de divórcio, e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer, o primeiro, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela foi contaminada. Seria detestável para o Senhor. Não tragam pecado sobre a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança (Dt. 24:1-4).

Note que nestes versículos, a única proibição era contra mulheres divorciadas duas vezes (ou divorciadas e viúvas) recasando-se com seus primeiros maridos. Nada é dito sobre o pecado cair sobre ela por casar-se a segunda vez, e uma vez que foi divorciada a segunda vez (ou viúva de seu segundo marido), era proibida de voltar ao seu primeiro marido. A indicação óbvia é que ela seria livre para recasar com qualquer outro homem (que estivesse disposto a dar a ela outra chance). Se fosse pecado que ela casasse novamente com outro homem, não haveria necessidade de Deus dar esse tipo de instrução específica. Tudo o que Ele teria que dizer é: “Divorciados são proibidos de se recasar”.

Mais adiante, se Deus permitisse que essa mulher se casasse uma segunda vez, o homem que se casasse com ela depois de seu primeiro divórcio também não teria culpa. E se fosse permitido que ela se casasse uma terceira vez, o homem que se casasse com ela depois de ser divorciada duas vezes não estaria pecando (a menos que fosse seu primeiro marido). Portanto, o Deus que odiava o divórcio, amava divorciados e graciosamente, ofereceu a eles outra chance.

Um Resumo (A Summary)

Deixe-me resumir o que descobrimos até agora: Mesmo que Deus tenha declarado Seu ódio pelo divórcio, Ele não deu indicação antes ou durante a velha aliança que recasamento era pecado, com duas exceções: (1) a mulher divorciada duas vezes ou divorciada e viúva recasando-se com seu primeiro marido e (2) o caso de uma mulher divorciada casando-se com um sacerdote. Mais adiante, Deus não deu indicação que casar-se com uma pessoa divorciada era pecado, exceto para sacerdotes.

Aparentemente, isto vai contra o que Jesus disse sobre pessoas divorciadas que recasam e aqueles que se casam com pessoas divorciadas. Jesus disse que tais pessoas cometem adultério (veja Mt. 5:32). Portanto, estamos interpretando mal a Jesus, a Moisés ou Deus mudou Sua lei. Minha suspeita é que possamos estar interpretando mal o que Jesus ensinou, pois me parece estranho que Deus dissesse que algo que é moralmente aceitável durante mil e quinhentos anos debaixo da Lei que Ele deu a Israel fosse pecado.

Antes de enfrentarmos esta contradição aparente, deixe-me ressaltar que a permissão de Deus ao recasamento debaixo da velha aliança não carregava condições que eram baseadas nos motivos do divórcio ou no grau de culpa da pessoa no divórcio. Deus nunca disse que certos divorciados estavam desqualificados para o recasamento, pois seus divórcios não tinham motivos legítimos. Ele nunca disse que algumas pessoas eram dignas de se recasarem por causa da legitimidade de seus divórcios. Mesmo assim, ministros modernos tentam fazer tais julgamentos baseando-se num lado da história. Por exemplo, uma mulher divorciada tenta convencer seu pastor que é digna de poder recasar, pois foi somente a vítima do divórcio. Seu ex-marido divorciou-se dela — e não o contrário. Mas se aquele pastor tivesse a oportunidade de ouvir o lado do marido, poderia vir a ser solidário a ele. Talvez ela tenha sido um monstro tendo, portanto, parte da culpa.

Conheci um casal que ambos tentaram provocar o outro a pedir o divórcio para que pudessem se livrar da culpa de ser a pessoa que pediu o divórcio. Ambos queriam dizer que foi o cônjuge, não eles, que pediu o divórcio, permitindo, assim, seu casamento subsequente. Podemos enganar as pessoas, mas não a Deus. Por exemplo, qual é a avaliação dEle da mulher, que, em desobediência à Palavra de Deus, nega continuamente o sexo ao seu marido e, então, se divorcia por ele não ter-lhe sido fiel? Ela não é, pelo menos em parte, responsável pelo divórcio?

O caso da mulher divorciada duas vezes que acabamos de ler em Deuteronômio 24 nada diz sobre a legitimidade de seus dois divórcios. O primeiro marido encontrou nela “algo que ele reprova”. Se isto tivesse sido adultério, ela seria digna de morte de acordo com a Lei de Moisés, que prescrevia que adúlteros deveriam ser apedrejados (veja Lv. 20:10). Portanto, se adultério for o único motivo legítimo para o divórcio, talvez seu primeiro marido não tinha um bom motivo para se divorciar dela. Por outro lado, talvez ela tenha cometido adultério, e ele, sendo um homem santo como José de Maria, “pretendia anular o casamento secretamente” (Mt. 1:19). Existem muitos cenários possíveis.

É dito que seu segundo marido se divorciou por “não gostar mais dela”. Mais uma vez, não sabemos se alguém é culpado ou se dividem a culpa. Mas não faz diferença. A graça de Deus foi estendida sobre ela para se casar com qualquer um que desse uma chance a uma mulher divorciada duas vezes, com exceção de seu primeiro marido.

Uma Objeção (An Objection)

É muitas vezes dito que “se disserem que é permitido que pessoas recasem depois de se divorciarem por qualquer motivo, isso as encorajará a divorciarem-se por motivos ilegítimos”. Acho que isso pode ser verdade em alguns casos de pessoas meramente religiosas que não estão tentando verdadeiramente agradar a Deus, mas reprimir pessoas que não são submetidas a Deus de pecar é um exercício inútil. Contudo, pessoas que são realmente submetidas a Deus em seus corações não estão procurando formas de pecar. Estão tentando agradar a Deus, e esse tipo de pessoas normalmente tem casamentos fortes. Mais adiante, Deus, aparentemente, não estava muito preocupado com pessoas debaixo da velha aliança se divorciando por motivos ilegítimos devido a uma lei liberal de recasamento porque Ele deu a Israel uma lei liberal de recasamento.

Devemos evitar dizer às pessoas que Deus está disposto a perdoá-las de qualquer pecado, pois serão encorajadas a pecar, porque sabem que o perdão está disponível? Se a resposta for sim, teremos que parar de pregar o evangelho. Novamente, tudo se resume à condição dos corações das pessoas. Aquelas que amam a Deus querem obedecê-Lo. Eu sei muito bem que o perdão de Deus estaria disponível se eu o pedisse, sem importar que pecado eu possa cometido. Mas isso não me motiva a pecar nem um pouco, porque amo a Deus e renasci; fui transformado por Sua graça e quero agradá-Lo.

Deus sabe que não há necessidade de adicionar mais uma consequência negativa às muitas outras inevitáveis do divórcio com esperança de motivar as pessoas a continuarem casadas. Dizer às pessoas com problemas no casamento que é melhor não se divorciem, pois nunca serão permitidas casarem-se novamente proporciona pouca motivação para que permaneçam casadas. Mesmo que acreditem em você, a perspectiva de uma vida solteira comparada a uma vida de pobreza marital contínua parece o céu à pessoa casada miseravelmente.

Paulo no Recasamento (Paul on Remarriage)

Antes de atacarmos o problema de harmonizar as palavras de Jesus sobre o recasamento com as de Moisés, precisamos perceber que há mais um autor bíblico que concorda com Moisés, e seu nome é Paulo, o apóstolo. Paulo escreveu claramente que o recasamento para divorciados não é pecado, concordando com o que o Velho Testamento diz:

Quanto às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança. Por causa dos problemas atuais, penso que é melhor o homem permanecer como está. Você está casado? Não procure separar-se. Está solteiro? Não procure esposa. Mas, se vier a casar-se, não comete pecado; e, se uma virgem se casar, também não comete pecado. Mas aqueles que se casarem enfrentarão muitas dificuldades na vida, e eu gostaria de poupá-los disso (1 Co. 7:25-28, ênfase adicionada).

Não há dúvida que Paulo estava falando a pessoas divorciadas nesta passagem. Ele aconselhou os casados, os solteiros e os divorciados a continuarem em seu estado atual por causa da perseguição que os cristãos estavam sofrendo na época. Contudo, Paulo deixou claro que pessoas divorciadas e virgens não pecariam se recasassem.

Note que Paulo não qualificou a legalidade do recasamento de pessoas divorciadas. Ele não disse que recasamentos só eram permitidos se a pessoa divorciada não tivesse parcela de culpa em seu divórcio anterior. (E que outra pessoa além de Deus está qualificada a julgar tal coisa?) Ele não disse que recasamento só era permitido àqueles que tinham sido divorciados antes de sua salvação. Não, ele disse simplesmente que recasamento não é pecado para pessoas divorciadas.

Paulo era Flexível Sobre o Divórcio? (Was Paul Soft on Divorce?)

Por Paulo ter endossado uma política generosa sobre recasamento, isso quer dizer que ele também era flexível sobre o divórcio? Não, Paulo era claramente contra o divórcio em geral. Mais cedo no mesmo capítulo de sua carta aos coríntios, ele deixou uma lei sobre o divórcio que está em harmonia com o ódio de Deus pelo divórcio:

Aos casados, dou este mandamento, não eu, mas o Senhor: Que a esposa não se separe do seu marido. Mas se o fizer, que permaneça sem se casar ou, então, reconcilie-se com o seu marido. E o marido não se divorcie da sua mulher. Aos outros, eu mesmo digo isto, não o Senhor: Se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe a viver com ele, não se divorcie dela. E, se uma mulher tem marido descrente, e ele se dispõe a viver com ela, não se divorcie dele. Pois o marido descrente é santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por meio do marido. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas agora são santos. Todavia, se o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou irmã não fica debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz. Você, mulher, como sabe se salvará seu marido? Ou você, marido, como sabe se salvará sua mulher? Entretanto, cada um continue vivendo na condição que o Senhor lhe designou e de acordo com o chamado de Deus. Está é a minha ordem para todas as igrejas (1 Co. 7:10-17).

Note que Paulo se dirige primeiramente a crentes casados com crentes. Eles não devem se divorciar é claro, e Paulo diz que essa não é sua instrução, mas do Senhor. E com certeza, isto concorda com tudo o que consideramos na Bíblia até agora.

É aqui que fica interessante. Paulo era, obviamente, realístico o suficiente para perceber que mesmo crentes podem se divorciar em casos raros. Se isso ocorre, Paulo diz que a pessoa que se divorciou de seu esposo ou sua esposa deve continuar descasado ou se reconciliar com ele/ela. (Mesmo que Paulo dê estas instruções específicas às esposas, eu assumo que as mesmas regas se apliquem aos esposos.)

Novamente, o que Paulo escreve não nos surpreende. Primeiro, ele deixou a lei de Deus a respeito do divórcio, mas é inteligente o suficiente para saber que a lei de Deus pode não ser sempre obedecida. Portanto, quando o pecado do divórcio ocorre entre dois crentes, ele dá mais instruções. A pessoa que se divorciou de seu cônjuge deve continuar descasada ou se reconciliar com seu cônjuge. Com certeza, esta seria a melhor coisa no evento de divórcio entre crentes. Desde que ambos continuem descasados, há chance de reconciliação. (E obviamente, se tivessem cometido um pecado imperdoável pelo divórcio, haveria pouco motivo para Paulo dizer-lhes para continuarem descasados ou para se reconciliarem.)

Você acha que Paulo era inteligente o suficiente para saber que sua segunda diretriz a crentes divorciados poderia não ser sempre obedecida? Eu acho que sim. Talvez não tenha dado mais diretrizes para crentes divorciados por esperar que os verdadeiros crentes seguissem sua primeira diretriz de não se divorciarem e, portanto, somente para casos raros sua segunda diretriz seria necessária. Com certeza, verdadeiros seguidores de Cristo, se tivessem problemas conjugais, fariam todo o possível para preservar seus casamentos. E certamente, um crente que, depois de todas as tentativas para preservar o casamento, sentisse que não tinha outra alternativa além do divórcio, este crente por pura vergonha pessoal e desejo de honrar a Cristo, não consideraria se recasar com qualquer outra pessoa, e ainda esperaria a reconciliação. Parece-me que o real problema na igreja moderna a respeito do divórcio é que há um percentual muito alto de falsos crentes, pessoas que nunca realmente creram e, portanto, se submeteram ao Senhor Jesus Cristo.

É bem claro, pelo que Paulo escreveu em 1 Coríntios 7, que Deus tem maiores expectativas para crentes, pessoas que são habitadas pelo Espírito Santo, que para incrédulos. Paulo escreveu, como lemos, que crentes não devem se divorciar de seus cônjuges incrédulos desde que tais cônjuges estejam dispostos a viver com eles. Mais uma vez, esta diretriz não nos surpreende, já que está em perfeita harmonia com tudo mais que lemos sobre o assunto nas Escrituras. Deus é contra o divórcio. Contudo, Paulo continua dizendo que se o ímpio quer o divórcio, o crente deve permiti-lo. Ele sabe que o incrédulo não é submetido a Deus, e assim não espera que aja como tal. Deixe-me acrescentar que o fato de um ímpio concordar em morar com um crente é uma boa indicação de que está potencialmente aberto para o evangelho, ou que o crente está deteriorando ou é um falso cristão.

Agora, quem diria que um crente divorciado de um incrédulo não é livre para se recasar? Paulo nunca disse tal coisa, como disse no caso de dois crentes divorciados. Teríamos que nos perguntar por que Deus seria contra o recasamento de um crente divorciado de um ímpio. A qual propósito isso serviria? Mesmo assim, tal permissão parece ir contra o que Jesus disse sobre o recasamento: “Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério” (Mt. 5:32). Novamente, isso me faz suspeitar que estamos interpretando mal o que Jesus estava tentando comunicar.

O Problema (The Problem)

Jesus, Moisés e Paulo concordam claramente que divorcio é uma indicação de pecado por parte de um ou ambos os lados do divórcio. Todos são consistentemente contra o divórcio em geral. Mas eis o nosso problema: Como podemos reconciliar o que Moisés e Paulo disseram sobre o recasamento com o que Jesus disse? Certamente, devemos esperar que devam harmonizar, já que foram todos inspirados por Deus para dizerem o que disseram.

Vamos examinar exatamente o que Jesus disse e considerar com quem estava falando. Duas vezes no evangelho de Mateus encontramos Jesus discursando sobre divórcio e recasamento, uma vez no Sermão no Monte e outra quando foi questionado por alguns fariseus. Vamos começar com a conversa de Jesus com estes fariseus:

Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?” Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe”. Perguntaram eles: “Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora?” Jesus respondeu: “Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio. Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério” (Mt. 19:3-9).

Durante esta conversa com Jesus, os fariseus se referiram a uma porção da Lei Mosaica que mencionei mais cedo, Deuteronômio 24:1-4. Lá estava escrito:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora… (Dt. 24:1, ênfase adicionada).

Nos dias de Jesus, havia duas escolas de pensamento a respeito do que constituía indecência, ou “algo que ele reprova.” Cerca de vinte anos antes, um rabbi chamado Hillel ensinou que uma indecência era uma diferença irreconciliável. No tempo que Jesus teve Seu debate com os fariseus, a interpretação “Hillel” havia se tornado ainda mais liberal, permitindo o divórcio por quase “qualquer motivo”, como indica a pergunta dos fariseus a Jesus. Um homem podia divorciar-se de sua mulher se ela queimasse seu jantar, colocasse muito sal na comida, expusesse seu joelho em público, soltasse o cabelo, falasse com outro homem, dissesse algo indelicado sobre sua sogra ou fosse infértil. Um homem podia se divorciar de sua mulher até se visse alguém mais atraente que ela, vendo assim nela “algo que ele reprova”.

Outro rabbi famoso, Shammai, que viveu antes de Hillel, ensinou que “algo que ele reprova” era somente algo muito imoral, como adultério. Como você deve suspeitar, a interpretação liberal de Hillel era muito mais popular que a de Shammai entre os fariseus dos dias de Jesus. Os fariseus viviam e ensinavam que o divórcio era legal por qualquer motivo e, portanto, o divórcio era desenfreado. Os fariseus, em seus jeitos típicos farisaicos, enfatizavam a importância de dar a sua mulher a carta de divórcio quando a mandasse embora, para “não quebrar a Lei de Moisés”.

Não se Esqueça que Jesus Estava Falando com Fariseus (Don’t Forget that Jesus’ was Speaking to Pharisees)

Com este histórico em mente, podemos entender melhor o que Jesus estava enfrentando. Diante dEle estava um grupo de professores religiosos hipócritas, muitos dos quais, se não todos, tinham se divorciado uma ou mais vezes e, provavelmente, por terem encontrado companheiras mais atraentes. (Não acho que seja coincidência que as palavras de Jesus sobre divórcio no Sermão do Monte sigam Suas exortações a respeito da cobiça, também a chamando de forma de adultério.) Mesmo assim, estavam se justificando, dizendo que obedeceram à Lei de Moisés.

A própria pergunta revela sua inclinação. Eles acreditavam claramente que um homem podia se divorciar de sua mulher por qualquer motivo. Jesus expôs a falta de entendimento dos fariseus a respeito da intenção de Deus no casamento apelando para as palavras de Moisés sobre o casamento no capítulo 2 de Gênesis. Deus nunca quis que existisse nenhum divórcio, muito menos por “qualquer motivo”, mesmo assim, os líderes de Israel estavam se divorciando de suas mulheres assim como adolescentes terminam suas “paqueras”!

Imagino que os fariseus já sabiam a posição de Jesus sobre o divórcio, já que Ele havia afirmado publicamente antes e, portanto, estavam prontos com sua refutação: “Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora?” (Mt. 19:7).

Novamente, essa pergunta revela a inclinação deles. Ela foi formulada de forma a deixar transparecer que Moisés estava mandando os homens se divorciarem se suas esposas quando descobrissem “algo que ele não aprova”, e requerendo um certificado de divórcio próprio. Mas como sabemos, depois ler de Deuteronômio 24:1-4, não é isso que Moisés quis dizer. Ele só estava regulamentando o terceiro casamento de uma mulher, proibindo-a de recasar com seu primeiro marido.

Já que Moisés mencionou divórcio, ele deve ter sido permitido por algum motivo. Mas note como o verbo que Jesus usa em Sua resposta, permitiu, contrasta com a escolha do verbo dos fariseus, mandou. Moisés permitiu o divórcio; nunca mandou. A razão de Moisés ter permitido o divórcio foi por causa da dureza dos corações dos israelitas. Isto é, Deus permitiu o divórcio como concessão misericordiosa à iniquidade das pessoas. Ele sabia que as pessoas seriam infiéis para com seus cônjuges. Sabia que haveria imoralidades. Ele sabia que os corações das pessoas seriam quebrados. Portanto, permitiu o divórcio. Não era a intenção dEle, mas o pecado o fez necessário.

Depois, Jesus expôs a Lei de Deus aos fariseus, talvez até definindo o que era o “algo que ele reprova” de Moisés: “Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério” (Mt. 19:9, ênfase adicionada). Aos olhos de Deus, imoralidade sexual é o único motivo válido para um homem se divorciar de sua esposa, e posso entender isto. O que um homem ou mulher pode fazer que seja mais ofensivo ao seu cônjuge? Quando alguém comete adultério ou tem um caso, ele/ela envia uma mensagem brutal. Com certeza, Jesus não estava se referindo somente a adultério quando disse “imoralidade sexual”. Certamente, beijos apaixonados e carícias no cônjuge de outra pessoa seria uma imoralidade ofensiva, assim como a prática de ver pornografia e outras perversões sexuais. Lembre-se que Jesus igualou cobiça ao adultério durante Seu Sermão no Monte.

Não vamos nos esquecer com quem Jesus estava falando — fariseus que estavam se divorciando de suas mulheres por qualquer motivo e recasando rapidamente, mas que nunca cometiam adultério, a menos que quebrassem o sétimo mandamento. Jesus estava dizendo a eles que estavam somente enganando a si mesmos. O que estavam fazendo não era diferente de adultério, e isso faz sentido. Qualquer pessoa honesta pode ver que um homem que se divorcia de sua mulher para poder casar com outra está fazendo o que um adúltero faz, mas debaixo do pretexto da legalidade.

A Solução (The Solution)

Esta é a chave para harmonizar Jesus com Moisés e Paulo. Jesus estava simplesmente expondo a hipocrisia dos fariseus. Ele não estava dando uma lei que proíbe qualquer recasamento. Se estivesse, estaria contradizendo Moisés e Paulo e criando uma confusão para milhões de divorciados e milhões de pessoas recasadas. Se Jesus estivesse dando uma lei de recasamento, o que diríamos àqueles que se divorciaram e recasaram antes de terem ouvido sobre a Lei de Jesus? Devemos dizer-lhes que estão vivendo em relacionamentos adúlteros e sabendo que a Bíblia exorta que nenhum adúltero herdará o Reino de Deus (veja 1 Co. 6:9-10), instrui-los a se divorciarem novamente? Mas Deus não odeia o divórcio?

Devemos dizer-lhes para parar de ter sexo com seus cônjuges até que seus ex-cônjuges morram para evitar que cometam adultério regularmente? Mas Paulo não proíbe que casais evitem sexo um ao outro? Tal recomendação não levaria a tentações sexuais e até a estimular desejos para que seus ex-cônjuges morram?

Devemos dizer a tais pessoas que se divorciem de seus atuais cônjuges e recasem com seus cônjuges originais (como defendido por alguns), algo que foi proibido pela Lei Moisaica em Deuteronômio 24:1-4?

E as pessoas divorciadas que nunca recasaram? Se só forem permitidas recasar com seus antigos cônjuges que cometeram adultério ou alguma imoralidade, quem determinará se uma imoralidade realmente foi cometida? Para poder recasar, uma pessoa terá que provar que seu antigo cônjuge era culpado de cobiça, enquanto outra precisará trazer testemunhas do caso de seu cônjuge?

Como perguntei mais cedo, e sobre os casos onde o primeiro cônjuge cometeu adultério, em parte por estar casado com uma pessoa que lhe negou o sexo? É justo que a pessoa que negou o sexo possa recasar enquanto a outra que cometeu o adultério não?

E sobre a pessoa que cometeu fornicação antes do casamento? O seu ato de fornicação não é um ato de infidelidade para com seu futuro cônjuge? O pecado dessa pessoa não seria considerado equivalente ao adultério se ela ou seu parceiro sexual estivessem casados no período desse pecado? Por que essa pessoa pode casar?

E duas pessoas que moram juntas, não casadas, e então “se separam”? Por que é permitido que se casem com outra pessoa depois dessa separação; só por não terem se casado oficialmente? Qual é a diferença entre eles e aqueles que se divorciam e recasam?

E sobre o fato que “as coisas antigas já passaram” e que “surgiram coisas novas” quando uma pessoa se torna cristã (veja 2 Co. 5:17)? Isso realmente significa todos os pecados exceto o pecado de divórcio ilegítimo?

Todas essas perguntas[1] podem ser feitas e muitas outras que são fortes motivos para pensarmos que Jesus não estava deixando um novo mandamento a respeito do recasamento. Com certeza, Jesus era inteligente o suficiente para se dar conta das ramificações de Sua nova lei de recasamento, se era isso mesmo. Isto por si só é suficiente para nos dizer que Ele estava somente expondo a hipocrisia dos fariseus — homens cobiçosos, religiosos e hipócritas que estavam se divorciando de suas esposas “por qualquer motivo” e se recasando.

Certamente, a razão de Jesus ter dito que estavam “cometendo adultério” ao invés de simplesmente dizer que o que estavam fazendo era errado é que queria que vissem que divórcio por qualquer motivo e recasamento subsequente não é diferente de adultério, algo que diziam nunca fazer. Devemos concluir, então, que a única coisa com a qual Jesus estava preocupado era o aspecto sexual de um recasamento e que aprovaria o recasamento desde que houvesse abstinência sexual? Obviamente não. Portanto, não vamos fazê-lo dizer o que nunca pretendeu.

Uma Comparação Cuidadosa (A Thoughtful Comparison)

Vamos imaginar duas pessoas. Uma é um homem casado, religioso, que diz amar a Deus com todo o seu coração e que começa a cobiçar uma mulher mais jovem da casa ao lado. Logo, ele se divorcia de sua esposa e rapidamente se casa com a moça de suas fantasias.

O outro homem não é religioso. Ele nunca ouviu o evangelho e tem um estilo de vida pecaminoso, que finalmente lhe custa seu casamento. Alguns anos mais tarde, como solteiro, ouve o evangelho, se arrepende e começa a seguir a Jesus de todo o seu coração. Três anos mais tarde, se apaixona por uma mulher cristã muito compromissada que conhece em sua igreja. Ambos buscam ao Senhor diligentemente e o conselho de outros e por fim decidem se casar. Eles se casam e servem fielmente ao Senhor e um ao outro até a morte.

Agora, vamos assumir que ambos os homens pecaram ao se recasar. Qual dos dois tem o maior pecado? Obviamente o primeiro homem. Ele é como um adúltero.

E quanto ao segundo homem? Realmente parece que ele pecou? Pode ser dito que ele não é diferente de um adúltero, como pode ser dito do primeiro homem? Eu acho que não. Devemos dizer a ele o que Jesus disse sobre aqueles que se divorciam e depois recasam, informando-lhe que está vivendo com uma mulher com quem Deus não uniu, porque Deus ainda o considera casado com sua primeira esposa? Devemos dizer a ele que está vivendo em adultério?

As respostas são óbvias. Adultério é cometido por pessoas casadas que colocam seus olhos sobre alguém além de seus cônjuges. Portanto, se divorciar de seu cônjuge por encontrar alguém mais atraente é o mesmo que adultério. Mas uma pessoa não casada e uma divorciada não podem cometer adultério, já que não têm cônjuges para com quem ser infiéis. Uma vez que entendemos o contexto bíblico e histórico do que Jesus disse, não inventemos conclusões que não fazem sentido e que contradizem o resto da Bíblia.

Casualmente, quando os discípulos ouviram a resposta de Jesus à pergunta dos fariseus, responderam dizendo: “Se esta é a situação entre o homem e sua mulher, é melhor não casar”(Mt. 19:10). Perceba que eles haviam crescido debaixo do ensinamento e influência dos fariseus e dentro de uma cultura que era grandemente influenciada pelos fariseus. Eles nunca haviam considerado o casamento permanente. Aliás, até alguns minutos atrás, eles também, provavelmente acreditavam que era legal que um homem se divorciasse de sua esposa por qualquer motivo. Portanto, eles concluíram rapidamente que deveria ser melhor evitar o casamento e não arriscar cometer divórcio e adultério.

Jesus respondeu,

Nem todos têm condições de aceitar esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado. Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos céus. Quem puder aceitar isso, aceite (Mt. 19:11-12).

Isto é, o impulso sexual de alguém e/ou a habilidade de controle é o maior fator determinante. Até Paulo disse: “é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo” (1 Co. 7:9). Aqueles que são eunucos, ou são feitos eunucos pelos homens (como era feito por homens que precisavam de outros homens em quem podiam confiar para guardar seus haréns) não têm desejos sexuais. Aqueles que se fazem “eunucos por causa do Reino dos céus” parecem ser aqueles que são agraciados por Deus com controle próprio extra, pois “nem todos têm condições de aceitar esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado” (Mt. 19:11).

O Sermão do Monte (The Sermon on the Mount)

Devemos nos lembrar que a multidão a quem Jesus falou durante Seu Sermão do Monte também era de pessoas que haviam passado suas vidas debaixo da influência hipócrita dos fariseus, governantes e professores de Israel. Como aprendemos mais cedo em nosso estudo do Sermão do Monte, é óbvio que muito do que Jesus disse era nada menos que uma correção dos falsos ensinos dos fariseus. Jesus até disse à multidão que não entrariam no céu, a menos que sua retidão excedesse a dos escribas e fariseus (veja Mt. 5:20), que era outro jeito de dizer que todos os escribas e fariseus estavam indo para o inferno. No fim de Seu sermão, as multidões estavam impressionadas, em parte, porque Jesus estava ensinando “não como os mestres da lei” (Mt. 7:29).

Cedo em Seu sermão, Jesus expôs a hipocrisia daqueles que dizem nunca cometer adultério, mas que cobiçam ou se divorciam e recasam. Ele expandiu o significado de adultério além do ato físico pecaminoso entre duas pessoas que são casadas com outras. O que Ele disse seria óbvio para qualquer pessoa honesta que pensasse um pouco. Mantenha em mente que até o sermão de Jesus, a maioria das pessoas na multidão teria pensado que era legal o divórcio “por qualquer motivo”. Jesus queria que Seus seguidores e todos os outros soubessem que desde o início a intenção de Deus era um padrão muito mais alto.

Vocês ouviram o que foi dito: “Não adulterarás”. Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno. Foi dito: “Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio”. Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério (Mt. 5:27-32).

Primeiramente, como mostrei mais cedo, note que as palavras de Jesus sobre o divórcio e recasamento não somente segue diretamente Suas palavras sobre cobiça, ligando-as, mas que Jesus iguala ambas ao adultério, ligando-as ainda mais. Portanto, vemos o fio em comum que percorre essa porção inteira das Escrituras. Jesus estava ajudando Seus seguidores a entender o que realmente significa obedecer ao sétimo mandamento. Significa não cobiçar e não se divorciar e se recasar.

Todos em Sua audiência israelita tinham ouvido o sétimo mandamento lido na sinagoga (as pessoas não possuíam Bíblias), e também ouvido a exposição, assim como observado sua aplicação nas vidas de seus professores, os escribas e fariseus. Em seguida, Jesus disse: “mas eu lhes digo”, porém Ele não estava adicionando novas leis. Estava somente revelando o propósito original de Deus.

Em primeiro lugar, a cobiça era claramente proibida pelo décimo mandamento, e mesmo sem o décimo mandamento, qualquer um que pensasse no assunto perceberia que é errado desejar o que Deus condena.

Segundo, desde os primeiros capítulos de Gênesis, Deus deixou claro que o casamento deveria ser um compromisso para a vida inteira. Mais adiante, qualquer um que pensasse sobre isso teria concluído que divórcio e recasamento é bem parecido com o adultério, especialmente quando alguém se divorcia com o propósito de recasar.

Mas novamente, nesse sermão é óbvio que Jesus estava somente ajudando as pessoas a verem a verdade sobre a cobiça e sobre o divórcio, por qualquer motivo, e recasamento. Ele não estava dando uma nova lei de recasamento que até agora não estava “nos livros”.

É interessante que poucos na igreja têm interpretado literalmente as palavras de Jesus sobre arrancar seus olhos ou cortar suas mãos, já que tais ideias são contra o resto das Escrituras, e podem servir somente para fortalecer a ideia de evitar tentações sexuais. Mesmo assim, tantos na igreja tentam interpretar literalmente as palavras de Jesus sobre a pessoa recasada cometendo adultério, mesmo quando uma interpretação tão literal contradiz muito do resto das Escrituras. O alvo de Jesus era que Sua audiência enfrentasse a verdade, com a esperança que houvesse menos divórcios. Se Seus seguidores guardassem de coração o que disse sobre a cobiça, não haveria imoralidade entre eles. Se não houvesse imoralidade, não haveria legitimidade para o divórcio, e não haveria divórcio, assim como Deus quis desde o começo.

Como um Homem faz Sua Esposa Cometer Adultério? (How Does a Man Make His Wife Commit Adultery?)

Note que Jesus disse: “todo aquele que se divorciar de sua mulher, excepto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera”. Novamente, isso nos leva a concluir que Ele não estava dando uma nova lei de recasamento, somente revelando a verdade sobre o pecado de um homem que se