O Sermão do Monte

Capítulo Oito (Chapter Eight)

Por causa de seu desejo de fazer discípulos, ensinando-os a obedecer a todos os mandamentos de Cristo, o ministro fazedor discípulos estará muito interessado no Sermão do Monte de Jesus. Não há sermão de Jesus registrado que seja mais longo, e está cheio de Seus mandamentos. O discipulador vai querer não somente obedecer ao que foi mandado naquele sermão, como também ensinar tudo a seus discípulos.

Sendo assim, compartilharei o que entendo do sermão que está registrado em Mateus do capítulo 5 ao 7. Também encorajo ministros a ensinarem o Sermão do Monte, versículo por versículo, a seus discípulos. Espero que tudo o que escrevi seja útil a esse propósito.

Abaixo está um esboço do Sermão do Monte, para nos dar uma visão geral e enfatizar os temas principais.

I.) Jesus reúne Sua audiência (5:1-2)

II.) Introdução (5:3-20)

A) As características e bênçãos dos abençoados (5:3-12)

B.) Advertência para continuarem a ser sal e luz (5:13-16)

C.) A relação da Lei com os seguidores de Cristo (5:17-20)

III.) O Sermão: Sejam mais santos que os escribas e fariseus (5:21-7:12)

A.) Amem uns aos outros, diferentemente dos escribas e fariseus (5:21-26)

B.) Sejam sexualmente puros, ao contrário dos escribas e fariseus (5:27-32)

C.) Sejam honestos, diferentemente dos escribas e fariseus (5:33-37)

D.) Não se vinguem, como os escribas e fariseus (5:38-42)

E.) Não odeiem seus inimigos, como os escribas e fariseus (5:43-48)

F.) Façam o bem pelos motivos certos, ao contrário dos escribas e fariseus (6:1-18)

1.) Deem ao pobre pelos motivos certos (6:2-4)

2.) Orem pelos motivos certos (6:5-6)

3.) Uma digressão a respeito da oração e perdão (6:7-15)

a.) Instruções a respeito da oração (6:7-13)

b.) A necessidade de perdoar uns aos outros (6:14-15)

4.) Jejuem pelos motivos certos (6:16-18)

G.) Não sirvam ao dinheiro como os escribas e fariseus (6:19-34)

H.) Não procurem defeitos em seus irmãos (7:1-5)

I.) Não gastem seu tempo dando a verdade aos que não apreciam (7:6)

J.) Encorajamento à oração (7:7-11)

IV.) Conclusão: Um resumo do Sermão

A.) Uma frase de resumo (7:12)

B.) Uma advertência para obedecer (7:13-14)

C.) Como reconhecer falsos profetas e falsos cristãos (7:15-23)

D.) Um aviso final contra a desobediência e um resumo (7:24-27)

Jesus Reúne Sua Audiência (Jesus Gathers His Audience)

Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo (Mt. 5:1-2).

Parece que Jesus reduziu propositalmente o tamanho de Sua audiência quando saiu do meio da “multidão” e subiu o monte. É nos dito que “Seus discípulos aproximaram-se dele,” como se estivesse indicando que somente aqueles que estavam famintos para ouvi-Lo estavam dispostos a suar para subir o monte onde Ele finalmente descansou. Aparentemente, eles eram muitos, pois são chamados de “multidões” em 7:28.

Então Jesus começou Seu sermão, falando aos Seus discípulos, e desde o início temos uma dica de qual seria Seu tema predominante. Ele lhes diz que são bem-aventurados se possuírem certas características, pois as mesmas pertencem aos merecedores do céu. Esse será o tema geral desse sermão — Somente os santos herdarão o reino de Deus. As bem-aventuranças, como são chamadas, encontradas em 5:3-12, abundam nesse tema.

Jesus enumera várias características diferentes dos bem-aventurados, e prometeu várias bênçãos específicas a elas. Leitores casuais muitas vezes assumem que cada cristão deve ter uma, e somente uma bem-aventurança. Contudo, leitores cuidadosos percebem que Jesus não estava listando tipos diferentes de crentes que receberão bênçãos variadas, mas todos os verdadeiros cristãos que receberão uma bênção futura universal: a herança do reino dos céus. Não há outro modo inteligível de interpretarmos Suas palavras:

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados (Mt. 5:3-4).

Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra (Mt. 5:5; JFA).

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.

Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês (Mt. 5:6-12).

As Bem-aventuranças e os Traços de Caráter (The Blessings and Character Traits)

Primeiro, vamos considerar todas as bênçãos prometidas. Jesus disse que os bem-aventurados devem (1) herdar o reino dos céus, (2) receber conforto, (3) herdar a terra, (4) ser saciados, (5) receber misericórdia, (6) ver a Deus, (7) ser chamados filhos de Deus e (8) herdar o reino dos céus (uma repetição do no 1).

Jesus quer que pensemos que somente os pobres de espírito e aqueles que foram perseguidos por causa da justiça herdarão o reino de Deus? Somente os puros de coração verão a Deus e somente os pacificadores serão chamados filhos de Deus, porém nenhum deles herdará o reino de Deus? Os pacificadores não receberão misericórdia e os misericordiosos não serão chamados filhos de Deus? Obviamente todas essas conclusões estariam erradas. Portanto, só é seguro concluir que as várias bênçãos prometidas são pedaços de uma grande bênção — a herança do Reino de Deus.

Agora vamos considerar as diferentes qualidades que Jesus descreveu: (1) os pobres de espírito, (2) os que choram, (3) os humildes, (4) os que têm fome e sede de justiça, (5) os misericordiosos, (6) os puros de coração, (7) os pacificadores e (8) os perseguidos.

Jesus quer que pensemos que alguém pode ser puro de coração e não misericordioso? Alguém pode ser perseguido por causa da justiça, mas não ter fome e sede de justiça? Mais uma vez, obviamente não. Os vários traços de caráter dos bem-aventurados são os traços multiplicados, até certo ponto, por todos os bem-aventurados.

Claramente, as bem-aventuranças descrevem os traços de caráter dos verdadeiros seguidores de Jesus. Numerando essas características a Seus discípulos, Jesus lhes assegurou que esses seriam os bem-aventurados que eram salvos e que entrariam no céu um dia. Atualmente, eles podem não se sentir tão abençoados por causa de seus sofrimentos, e o mundo a sua volta pode não considerá-los abençoados, mas aos olhos de Deus, eles são.

As pessoas que não se encaixam na descrição de Jesus não são bem-aventuradas e não herdarão o reino dos céus. Cada discipulador deve sentir a obrigação de se assegurar que as pessoas de seu rebanho saibam disso.

As Características dos Bem-aventurados (The Character Traits of the Blessed)

As oito características dos bem-aventurados estão sujeitas até certo ponto à interpretação. Por exemplo, qual é a virtude em ser “pobre de espírito”? Eu tendo a pensar que Jesus estava descrevendo a primeira característica necessária que uma pessoa deve ter para ser salva — ela deve perceber sua própria pobreza de espírito. Uma pessoa precisa primeiramente enxergar a necessidade de um Salvador antes de poder ser salva, e havia esse tipo de pessoa na audiência de Jesus que tinha acabado de perceber sua própria miséria. Como eles eram bem-aventurados comparados aos orgulhosos de Israel que eram tão cegos por não exergarem seus pecados!

Essa primeira característica elimina toda independência e qualquer pensamento de salvação por mérito. Um verdadeiro bem-aventurado é aquele que percebe que nada tem para oferecer a Deus e que sua própria retidão é como “trapo imundo” (Is. 64:6).

Jesus não queria que as pessoas pensassem que poderiam ter as características dos bem-aventurados por esforço próprio. Não, as pessoas são bem-aventuradas, isto é, bem-aventuradas por Deus se tiverem as características dos bem-aventurados. Tudo vem da graça de Deus. Os bem-aventurados de quem Jesus falava eram abençoados, não só por causa do que os aguardava no céu, mas por causa do trabalho que Jesus tinha feito em suas vidas na terra. Quando vejo as características dos bem-aventurados em minha vida, elas não devem me lembrar do que eu fiz, mas do que Deus fez em mim por Sua graça.

Os que Choram (The Mournful)

Se a primeira característica foi listada no início porque é a primeira necessidade de merecedores do céu, talvez a segunda também foi listada de forma significativa: “Bem-aventurados os que choram” (Mt. 5:4). Será que Jesus estava descrevendo arrependimento sincero e remorso? Eu acho que sim, especialmente porque as Escrituras são claras quando dizem que tristeza que vem de Deus resulta em um arrependimento que é necessário para a salvação (veja 2 Co. 7:10). O triste coletor de impostos sobre quem Jesus falou certa vez é um exemplo desse tipo de pessoa bem-aventurada. Ele baixou sua cabeça humildemente no templo, batendo no peito e clamando a Deus por misericórdia; o oposto do fariseu ao seu lado que enquanto orava, lembrava a Deus orgulhosamente que tinha dizimado e jejuado duas vezes por semana; o coletor de impostos deixou aquele lugar perdoado de seus pecados. Naquela história, o coletor de impostos foi abençoado; o fariseu não (veja Lc. 18:9-14). Acredito que havia aqueles na audiência de Jesus que, pela convicção do Espírito Santo, estavam chorando. O conforto do Espírito Santo logo seria deles!

Se Jesus não estava falando da lamentação inicial das pessoas arrependidas que estão vindo a Jesus, então talvez Ele estava descrevendo a tristeza que todos os verdadeiros crentes sentem enquanto continuam a encarar um mundo que está em rebelião contra o Deus que os ama. Paulo expressou isso como “grande tristeza e constante angústia em meu coração” (Rm. 9:2).

O Humilde (The Gentle)

A terceira característica, mansidão, também está listada nas Escrituras como um dos frutos do Espírito (veja Gl. 5:22-23). Mansidão não é um atributo gerado por si só. Aqueles que receberam a graça de Deus e morada do Espírito também são abençoados para se tornarem mansos. Um dia eles herdarão a terra, já que somente os justos irão morar na terra que Deus vai criar. Cristãos professos que são rudes e violentos devem tomar cuidado. Eles não estão entre os bem-aventurados.

Os Famintos por Justiça (Hungering for Righteousness)

A quarta característica, fome e sede de justiça, descreve o desejo interior dado por Deus, que todos os que renasceram possuem. Deus sofre por toda a injustiça praticada no mundo e contra aquele que permanece nEle. Ele odeia o pecado (veja Sl. 97:10; 119:128, 163) e ama a justiça.

Muitas vezes, quando lemos a palavra justiça nas Escrituras, imediatamente a traduzimos para: “a posição legal de justiça imputada a nós por Cristo,” mas não é sempre isso que a palavra significa. Várias vezes ela significa: “a qualidade de viver corretamente pelo padrão de Deus.” É óbvio que esse era o significado que Jesus tinha em mente nessa passagem, porque não há razão para um cristão ter fome do que já tem. Aqueles que nasceram do Espírito buscam viver corretamente, e eles têm a garantia de que “serão satisfeitos” (Mt. 5:6), certos de que Deus, por Sua graça, completará o trabalho que começou neles (veja Fp. 1:6).

As palavras de Jesus aqui também preveem o tempo da nova terra, uma terra “onde habita a justiça” (2 Pd. 3:13). Então não haverá pecado. Todos amarão a Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo. Então, nós que não estaremos mais com fome e sede de justiça seremos satisfeitos. Finalmente, nossa oração do fundo do coração será respondida: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt. 6:10).

Os Misericordiosos (The Merciful)

A quinta característica, misericórdia, também é outra que todos os renascidos possuem por natureza como resultado de ter o misericordioso Deus morando neles. Aqueles que não possuem misericórdia não são bem-aventurados de Deus e revelam que não participam de Sua graça. O apóstolo Tiago concorda: “será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso” (Tg. 2:13). Se alguém ficar diante de Deus e receber um julgamento sem misericórdia, você acha que ele vai para o céu ou para o inferno? [1] A resposta é óbvia.

Uma vez, Jesus contou uma história de um servo que tinha recebido grande misericórdia de seu mestre, mas que não estava disposto a estender essa graça a seu servo. Quando seu mestre descobriu o que tinha acontecido, “entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia” (Mt. 18:34). Toda sua dívida que havia sido perdoada foi restabelecida. Então, Jesus advertiu Seus discípulos: “Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão” (Mt. 18:35). Portanto, recusar a perdoar um irmão ou irmã em Cristo que pede por perdão resulta na restituição de pecados que já haviam sido perdoados. Isso resulta em nós sermos entregues aos torturadores até pagarmos o que nunca poderemos pagar. Isso com certeza não parece com o céu para mim. Novamente, as pessoas que não são misericordiosas não receberão misericórdia de Deus. Elas não estão entre os bem-aventurados.

Os Puros de Coração (The Pure in Heart)

A sexta característica dos merecedores do céu é pureza do coração. Ao contrário de tantos cristãos professos, verdadeiros cristãos não são santos somente do lado de fora. Pela graça de Deus, seus corações se tornaram puros. Eles realmente amam a Deus de coração e isso afeta suas meditações e motivos. Jesus prometeu que eles verão a Deus.

Deixe-me perguntar novamente, devemos acreditar que existam verdadeiros cristãos que não são puros de coração e que portanto não verão a Deus? Será que Deus irá falar para eles: “Vocês podem entrar no céu, mas nunca poderão me ver”? Não, obviamente, todos verdadeiros merecedores do céu têm um coração puro.

Os Pacificadores (The Peacemakers)

Os pacificadores são os próximos da lista. Eles serão chamados filhos de Deus. Novamente, Jesus devia estar descrevendo todos os verdadeiros seguidores de Cristo, pois todos os crentes em Cristo são filhos de Deus (veja Gl. 3:26).

Aqueles que nascem do Espírito são pacificadores pelo menos de três maneiras:

Primeira, eles fizeram paz com Deus, que anteriormente era seu inimigo (veja Rm. 5:10).

Segunda, eles vivem em paz, o máximo possível, com outras pessoas. Não são caracterizados por dissensões e rixas. Paulo escreveu que aqueles que praticam discórdia, ciúmes, ira, dissensões e facções não herdarão o reino de Deus (veja Gl 5:19-21). Verdadeiros cristãos andarão a milha extra para evitar uma briga e manter a paz em seus relacionamentos. Eles não afirmam estar em paz com Deus enquanto não amarem seus irmãos (veja Mt. 5:23-24. 1 Jo. 4:20).

Terceira, eles compartilham o evangelho. Os verdadeiros seguidores de Cristo também ajudam outros a fazerem paz com Deus e seus companheiros. Talvez, lembrando-se desse versículo do Sermão do Monte, Tiago tenha escrito: “O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores” (Tg. 3:18).

Os Perseguidos (The Persecuted)

Finalmente, Jesus chamou bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa da justiça. Obviamente, Ele estava falando de pessoas que vivem corretamente, não dos que acham que a justiça de Deus foi imposta a eles. As pessoas que obedecem os mandamentos de Cristo são as que são perseguidas pelos incrédulos. Elas herdarão o Reino de Deus.

A que tipo de perseguição Jesus estava Se referindo? Tortura? Martírio? Não. Ele listou especificamente, ser insultado e receber calúnias por causa dEle. Isso indica novamente que quando alguém é verdadeiramente cristão, o fato se torna óbvio aos ímpios, caso contrário, não o insultariam. Quantas pessoas que se dizem cristãs são tão indistinguíveis dos ímpios que nenhum perdido as insulta? Na verdade elas não são cristãs. Como Jesus disse: “Ai de vocês quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lc. 6:26). Quando todos falarem bem de você é um sinal que você é um falso profeta. O mundo odeia verdadeiros cristãos (veja Jo. 15:18-21; Gl. 4:29; 2 Tm. 3:12; 1 Jo. 3:13-14).

Sal e Luz (Salt and Light)

Uma vez que Jesus havia assegurado a Seus obedientes discípulos que eles realmente estavam entre os transformados e bem-aventurados que estavam destinados a herdar o reino dos céus, Ele levantou uma palavra de precaução; diferente de muitos pregadores modernos que continuam a afirmar a bodes espirituais que nunca perderão a salvação que supostamente têm. Jesus amava Seus verdadeiros discípulos o suficiente para os advertir de que poderiam se retirar da categoria dos bem-aventurados.

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus (Mt. 5:13-16).

Note que Jesus não exortou Seus discípulos a se tornarem sal ou se tornarem luz. Ele disse (metaforicamente) que eles já eram sal, e os exortou a continuarem salgados. Ele disse (metaforicamente) que já eram luz, e os exortou a não deixarem sua luz ficar escondida, mas a continuarem brilhando. Que contraste aos muitos sermões dados por crentes professos sobre a necessidade de se tornarem sal e luz. Se as pessoas não são sal e luz, não são discípulas de Cristo. Elas não estão entre os bem-aventurados. Elas não irão para o céu.

Nos tempos de Jesus, o sal era usado principalmente como um conservador de carnes. Como obedientes seguidores de Cristo, devemos conservar este mundo pecaminoso de se tornar completamente podre e corrupto. Mas se nosso comportamento se tornar como o do mundo, nós realmente não serviremos “para nada” (v. 13). Jesus advertiu os bem-aventurados a continuarem salgados, conservando suas características únicas. Eles devem continuar distintos do mundo ao seu redor, para não se tornarem “não-salgados,” merecendo ser “jogado fora e pisado pelos homens.” Esse é um dos muitos avisos claros do Novo Testamento direcionados aos verdadeiros crentes contra a recaída. Se o sal realmente for sal, ele é salgado. Da mesma forma, seguidores de Jesus agem como seguidores de Jesus; caso contrário, não são, mesmo que um dia tenham sido.

Os verdadeiros seguidores de Jesus também são a luz do mundo. A luz sempre brilha. Se não brilhar, não é luz. Nessa analogia, a luz representa nossas boas obras (veja Mt. 5:16). Jesus não estava exortando aqueles que não tinham obras para realizarem algumas, mas exortando aqueles que têm obras para não esconderem sua bondade dos outros. Aqui, vemos um lindo equilíbrio do trabalho gracioso de Deus e nossa cooperação com Ele; ambos são necessários para sermos santos.

A Relação da Lei com os Seguidores de Cristo (The Law’s Relationship to Christ’s Followers)

Agora começamos um novo parágrafo (na NVI). É uma seção essencial de grande importância, uma introdução ao muito que Cristo dirá no restante de Seu sermão.

Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus (Mt. 5:17-20).

Se Jesus advertiu Sua audiência a não pensar que estava abolindo a Lei ou os profetas, podemos concluir seguramente que pelo menos alguns de Sua audiência estavam assumindo isso. Só podemos imaginar a razão de tal suposição. Talvez tenha sido por causa da severa censura de Jesus aos escribas e fariseus legalistas que tentavam alguns a pensar que Ele estava abolindo a Lei e os Profetas.

Sem levar isso em consideração, ficou claro que Jesus queria que seus discípulos percebessem o erro de tal suposição. Ele foi o inspirador divino do Velho Testamento inteiro, então com certeza não aboliria tudo o que havia dito através de Moisés e dos Profetas. Pelo contrário, Ele iria, como disse, cumprir as Leis e os Profetas.

Como exatamente Ele cumpriria a Lei e os Profetas? Alguns acham que Jesus estava falando somente sobre as profecias messiânicas. Mesmo que Jesus tenha cumprido (ou ainda irá cumprir) todas as profecias messiânicas, não era só isso que Ele tinha em mente. O contexto indica claramente que Ele também estava falando a cerca de tudo o que estava escrito na Lei e nos Profetas, até “a menor letra ou o menor traço” (v. 18) da Lei, e até os “menores” (v. 19) dos mandamentos.

Outros acham que Jesus quis dizer que iria cumprir a Lei cumprindo suas exigências em nosso favor usando Sua vida de obediência e morte de sacrifício (veja Rm. 8:4). Mas isso, como o contexto também revela, não é o que Ele tinha em mente. Nos versículos que se seguem, Jesus não mencionou Sua vida ou morte como ponto de referência para o cumprimento da Lei. Ao invés disso, na próxima frase Ele disse que a Lei seria relevante pelo menos “enquanto existirem céus e terra” e até “que tudo se cumpra,” as referências apontam para muito depois de Sua morte na cruz (v. 19), e que o povo deveria obedecer a Lei ainda melhor que o escribas ou fariseus, caso contrário não entrariam no céu (v. 20).

Obviamente, além de somente cumprir as professas messiânicas, tipos e sombras da Lei, assim como cumprir as exigências da Lei em nosso favor, Jesus também estava pensando em Sua audiência que devia guardar os mandamentos da Lei e fazer o que os Profetas disseram. Por um lado, Jesus cumpriria a Lei revelando a intenção original e verdadeira de Deus nela; confirmando-a, explicando-a e completando o que faltava ao entendimento de Sua audiência. [2] A palavra grega traduzida cumprir no versículo 17 também é traduzida no Novo Testamento como completar, terminar, saciar, e levar adiante completamente. Era exatamente isso que Jesus estava pronto a fazer, começando apenas quatro frases depois.

Não, Jesus não veio abolir e sim cumprir a Lei e os Profetas, isso é “completá-los inteiramente.” Quando ensino essa porção do Sermão do Monte, normalmente mostro a todos um copo de água pela metade como exemplo da revelação que Deus deu na Lei e nos Profetas. Jesus não veio abolir a Lei e os Profetas (enquanto digo isso, finjo que vou jogar o meio copo de água fora); pelo contrário, ele veio completar a Lei e os Profetas (nesse ponto eu pego uma garrafa de água e encho o copo até a borda). Isso ajuda as pessoas a entenderem o que Jesus quis dizer.

A Importância de Manter a Lei (The Importance of Keeping the Law)

Quanto à obediência aos mandamentos encontrados na Lei e nos Profetas, Jesus não poderia ter mostrado Seu propósito de forma mais rigorosa. Ele esperava que Seus discípulos lhes obedecessem. Eles eram tão importantes como sempre. Aliás, a forma como eles respeitassem os mandamentos determinaria seu status no céu: “Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar esses mandamentos, será chamado grande no Reino dos céus” (5:19).

Então chegamos ao versículo 20: “Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus.”

Note que essa não é uma ideia nova, mas uma frase conclusiva que está conectada aos versículos anteriores pela conjunção pois. Qual é a importância de guardarmos os mandamentos? Devemos cumpri-los, melhor ainda que os escribas e fariseus para entrarmos no reino dos céus. Vemos novamente que Jesus estava mantendo Seu tema — Somente os santos herdarão o Reino de Deus.

A fim de não contradizer a Cristo, o discipulador nunca garantirá a salvação de alguém que não seja mais santo que os escribas e fariseus.

Que Tipo de Santidade Jesus estava Falando? (Of What Kind of Righteousness Was Jesus Speaking?)

Quando Jesus disse que nossa santidade deve ser maior que a dos escribas e fariseus, será que não estava se referindo à posição legal de santidade que seria imposta a nós como um dom grátis? Não, Ele não estava; e por um bom motivo. Primeiro, o contexto não se encaixa nessa interpretação. Antes e depois dessa instrução (e durante todo o Sermão do Monte), Jesus estava falando sobre manter os mandamentos, isto é, viver corretamente. A interpretação mais natural de Suas palavras é que precisamos viver mais corretamente que os escribas e fariseus. E que absurdo seria pensar que Jesus estava colocando os fariseus em um nível que Seus próprios discípulos não estavam. Que besteira pensar que Jesus condenaria os escribas e fariseus por cometer pecados que não condenariam também Seus discípulos simplesmente porque eles haviam feito a “oração da salvação.” [3]

Nosso problema é que não queremos aceitar o significado óbvio do versículo, porque parece legalismo. Mas nosso verdadeiro problema é que não entendemos a correlação inseparável entre santidade imposta e santidade prática. Mas o apóstolo João entendia. Ele escreveu: “Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo” (1 Jo. 3:7). Também não entendemos a correlação entre o renascimento e a santidade prática como João também entendia: “Se vocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1 Jo. 2:29).

Jesus poderia ter adicionado a Sua frase de 5:20: “E se vocês se arrependerem, renascerem verdadeiramente e receberem Meu dom gratuito de santidade através da fé viva, a santidade prática de vocês com certeza excederá a dos escribas e fariseus enquanto cooperam com Meu Espírito que habita nos corações de vocês.”

Como ser mais Santo que os Escribas e Fariseus (How to be Holier than the Scribes and Pharisees)

A pergunta que naturalmente viria à mente em resposta à frase de Jesus em 5:20 é essa: Quanto exatamente os escribas e fariseus eram santos? A resposta é: Não muito.

Em outro momento, Jesus se referiu a eles como “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundicie” (Mt. 23:27). Isto é, pareciam santos por fora, mas eram corruptos por dentro. Eles faziam um bom trabalho mantendo as palavras da Lei, mas ignoravam o espírito dela, torcendo ou até alterando por várias vezes os mandamentos de Deus para se justificarem.

Essa falha essencial dos escribas e fariseus era, de fato, o foco principal de Jesus na maioria do restante do Sermão do Monte. Percebemos que Ele citou vários mandamentos conhecidos, e após cada citação revelava a diferença entre manter apenas as palavras e o espírito de cada lei. Fazendo isso, Ele expôs repetidamente os falsos ensinos e a hipocrisia dos escribas e fariseus, e revelou Suas verdadeiras expectativas para Seus discípulos.

Jesus começou cada exemplo com as palavras: “Vocês ouviram o que foi dito.” Ele estava provavelmente falando a pessoas que nunca haviam lido, somente ouvido os rolos do Velho Testamento sendo lidos pelos escribas e fariseus nas sinagogas. Pode ser dito que Sua audiência havia recebido falsos ensinamentos a vida inteira, já que ouviam os comentários torcidos dos escribas e fariseus a respeito da Palavra de Deus e observavam seus estilos de vida não sagrados.

Amem uns aos Outros, Diferentemente dos Escribas e Fariseus (Love Each Other, Unlike the Scribes and Pharisees)

Usando o sexto mandamento como Seu primeiro ponto de referência, Jesus começou a ensinar aos Seus discípulos as expectativas de Deus para eles, ao mesmo tempo em que revelava a hipocrisia dos escribas e fariseus.

Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: “Não matarás,” e “quem matar estará sujeito a julgamento.” Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: “Racá,” será levado ao tribunal. E qualquer que disser: “Louco!” corre o risco de ir para o fogo do inferno (Mt. 5:21-22).

Primeiro, note que Jesus estava advertindo sobre algo que poderia resultar em alguém ir para o inferno. Esse era seu tema principal — Somente os santos herdarão o Reino de Deus.

Os escribas e fariseus pregavam contra assassinato, citando o sexto mandamento; aparentemente avisando que assassinato poderia levar alguém ao tribunal.

Contudo, Jesus queria que Seus discípulos soubessem o que os escribas e fariseus pareciam não saber — havia infrações “menores” que poderiam levar pessoas ao tribunal, aparentemente o tribunal de Deus. Amar uns aos outros (o segundo maior mandamento) é tão importante que, quando ficamos com raiva de um irmão devemos nos considerar culpados no tribunal de Deus. Se verbalizarmos nossa raiva falando de forma cruel com ele, nossa infração será ainda mais séria, e devemos nos considerar culpados no tribunal supremo de Deus. E se formos além disso, emitindo ódio por um irmão com calúnia, somos culpados o suficiente diante de Deus para sermos lançados no inferno! Isso é sério! [4]

Nosso relacionamento com Deus é medido por nosso relacionamento com nossos irmãos. Se odiamos um irmão, isso revela que não temos a vida eterna. João escreveu:

Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo (1 Jo. 3:15).

Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê (1 Jo. 4:20).

Realmente, é muito importante que amemos uns aos outros e, como Jesus mandou, trabalhemos pela reconciliação quando formos ofendidos pelos outros (veja Mt. 18:15-17).

Jesus continuou:

Portanto, se vocês estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta (Mt. 5:23-24).

Isso mostra que se nosso relacionamento com nosso irmão não estiver certo, então nosso relacionamento com Deus não está certo. Os fariseus eram culpados de aumentar o que era de menor importância e minimizar o que era de maior importância. “Vocês coam um mosquito e engolem um camelo,” como Jesus disse (Mt. 23:23-24). Eles enfatizavam a importância do dízimo e das ofertas, mas negligenciavam o que era muito mais importante, o segundo maior mandamento: amar uns aos outros. Que hipocrisia, levar uma oferta para mostrar supostamente o amor da pessoa por Deus, enquanto viola Seu segundo mandamento mais importante! Era sobre isso que Jesus estava advertindo.

Ainda no assunto da rigidez da corte de Deus, Jesus continuou:

Entre em acordo depressa com seu adversário que pretende levá-lo ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois, caso contrário, ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você poderá ser jogado na prisão. Eu lhe garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo (Mt. 5:25-26).

É melhor ficar longe do tribunal de Deus de uma vez por todas vivendo em paz com nossos irmãos o quanto for possível. Se um irmão ou irmã estiver com raiva de nós e nos recusarmos a tentar a reconciliação “a caminho” do tribunal, ou seja, em nossa jornada pela vida para ficarmos diante de Deus, com certeza poderemos nos arrepender. O que Jesus disse aqui é muito parecido com Sua advertência contra qualquer imitação do servo inflexível em Mateus 18:23-25. O servo que foi perdoado, mas se recusou a perdoar teve sua dívida reintegrada, e foi entregue aos torturadores “até que pagasse tudo o que devia” (Mt. 18:34). Aqui, Jesus também está avisando sobre as horríveis consequências eternas de não amarmos nosso irmão como Deus espera.

Sejam Sexualmente Puros, não como os Escribas e Fariseus (Be Sexually Pure, Unlike the Scribes and Pharisees)

O sétimo mandamento foi o assunto do segundo exemplo de Jesus de como os escribas e fariseus obedeciam as palavras enquanto negligenciavam o espírito da Lei. Jesus esperava que Seus discípulos fossem mais puros sexualmente que os escribas e fariseus.

Vocês ouviram o que foi dito: “Não adulterarás.” Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno (Mt. 5:27-30).

Note novamente que Jesus estava mantendo Seu tema principal — Somente os santos herdarão o Reino de Deus. Ele avisou sobre o inferno e o que devemos fazer para ficarmos fora dele.

Os escribas e fariseus não podiam ignorar o sétimo mandamento; então, eles obedeciam-no por fora, permanecendo fiéis as suas esposas. Mesmo assim, eles fantasiavam fazer amor com outras mulheres. Eles despiam mentalmente as mulheres que viam no mercado. Eram adúlteros de coração e, portanto, estavam transgredindo o espírito do sétimo mandamento. Quantos na igreja não são diferentes?

É claro que Deus queria que todos fossem completamente puros sexualmente. Obviamente, se é errado ter um relacionamento sexual com a mulher do seu próximo, também é errado ficar pensando em um relacionamento sexual com ela. Jesus não estava adicionando uma lei mais restrita ao que já era requerido pela Lei de Moisés. O décimo mandamento continha uma clara proibição contra a cobiça: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Ex. 20:17).

Será que havia alguns culpados na audiência de Jesus? Provavelmente sim. O que eles deveriam fazer? Deveriam se arrepender imediatamente, como Jesus instruiu. Não importa o quanto custe, aqueles que cobiçavam deveriam parar, pois aqueles que cobiçam vão para o inferno.

É claro que nenhuma pessoa lógica acha que Jesus quis dizer que as pessoas que cobiçam devem literalmente arrancar um olho ou cortar uma mão. Alguém que cobiça e arranca um olho se torna simplesmente um cobiçador de um olho! Jesus estava enfatizando dramática e solenemente a importância de obedecer ao espírito do sétimo mandamento. Sujeite-se a isso eternamente.

Seguindo o exemplo de Cristo, o discipulador irá alertar seus discípulos a “cortar” qualquer coisa que os esteja fazendo tropeçar. Se for uma TV a cabo, o cabo precisa ser desconectado. Se for uma TV comum, ela precisa ser removida. Se for a assinatura de uma revista, ela deve ser cancelada. Se for a internet, ela deve ser desconectada. Se for uma janela aberta, as cortinas devem ser fechadas. Não vale a pena passar a eternidade no inferno por causa de nenhuma dessas coisas, e porque o discipulador realmente ama o rebanho dEle, ele lhes dirá a verdade e lhes avisará, assim como Jesus o fez.

Outro Modo de Cometer Adultério (Another Way to Commit Adultery)

O próximo exemplo de Jesus tem muito a ver com o que acabamos de analisar, e é provavelmente por isso que é mencionado em seguida. Deve ser considerado uma continuação ao invés de um novo assunto. O assunto é: “Outra coisa que os fariseus fazem que é equivalente ao adultério.”

Foi dito: “Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio.” Mas se eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério (Mt. 5:31-32).

Aqui está um exemplo de como os escribas e fariseus torciam a lei de Deus para acomodarem-na a seus estilos de vida pecaminosos.

Vamos criar um fariseu imaginário nos dias de Jesus. Atravessando a rua de sua casa, mora uma mulher atraente que ele tem cobiçado. Ele a paquera todos os dias que a vê. Ela parece atraída por ele, e seu desejo por ela cresce. Ele adoraria vê-la despida, e a imagina regularmente em suas fantasias sexuais. Ah, se ele pudesse tê-la!

Mas ele tem um problema. É casado e sua religião proíbe o adultério. Ele não quer quebrar o sétimo mandamento (mesmo já o tendo quebrado todas as vezes em que cobiçou). O que pode fazer?

uma solução! Se fosse divorciado de sua esposa atual, poderia se casar com a amante de sua mente! Mas a lei permite o divórcio? Um amigo fariseu diz, Sim! Há um versículo para isso! Deuteronômio 24:1 fala sobre dar o certificado de divórcio a sua esposa quando se divorciar dela. O divórcio deve estar dentro de certas circunstâncias para estar dentro da lei! Mas quais são essas circunstâncias? Ele lê cauletosamente o que Deus diz:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora (Dt. 24:1).

Aháh! Ele pode se divorciar de sua mulher se encontrar alguma indecência nela! E ele encontra! Ela não é tão atraente como a mulher do outro lado da rua! (Esse não é um exemplo forçado. De acordo com o Rabbi Hillel, que nos tempos de Jesus tinha o ensino mais popular a respeito do divórcio, um homem poderia se divorciar de sua mulher dentro da lei se encontrasse alguém que fosse mais atraente, pois isso faria sua esposa atual parecer “indecente” aos seus olhos. Rabbi Hillel também ensinou que um homem poderia se divorciar de sua esposa se ela pusesse muito sal em sua comida ou falasse com outro homem ou não lhe desse um filho).

Então, nosso fariseu cobiçoso e dentro da lei se divorcia de sua mulher dando-lhe o certificado de divórcio rapidamente e casa-se com a mulher de suas fantasias. E tudo sem um pouco de culpa, pois a Lei de Deus foi obedecida!

Um Ponto de Vista Diferente (A Different View)

É claro que Deus vê as coisas de forma diferente. Ele nunca estipulou o que realmente era o “algo que ele reprova” mencionado em Deuteronômio 24:1, ou mesmo se isso era um motivo legítimo para o divórcio. Aliás, essa passagem não diz quando o divórcio está dentro da lei ou não. Ela só contém uma proibição contra a mulher divorciada duas vezes ou divorciada uma vez e viúva recasar com seu primeiro marido. Dizer que há algum tipo de “indecência” aos olhos de Deus que faça o divórcio legítimo baseando-se nessa passagem é forçar o significado no texto.

De qualquer modo, para Deus, o homem imaginário que acabei de descrever não é diferente de qualquer adúltero. Ele quebrou o sétimo mandamento. Na verdade, ele é até mais culpado que o adúltero, pois é culpado de “adultério duplo.” Como isso pode acontecer? Primeiro, ele mesmo cometeu adultério. Jesus disse mais adiante: “Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério” (Mt. 19:9).

Segundo, porque sua esposa divorciada precisa procurar outro marido para sobreviver, aos olhos de Deus o fariseu fez o equivalente a forçar sua esposa a ter sexo com outro homem. Portanto, ele contrai a culpa por seu “adultério”. [5] Jesus disse: “Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera” (Mt. 5:32, ênfase adicionada).

Jesus poderia até estar acusando nosso fariseu cobiçoso de “adultério triplo” se Sua frase: “e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério” (Mt. 5:32), significar que Deus culpa o fariseu pelo “adultério” do novo marido de sua ex-esposa. [6]

Esse era um tema popular nos dias de Jesus, como lemos em outro lugar onde os fariseus O questionaram: “É permitido ao homem se divorciar de sua mulher por qualquer motivo?” (Mt. 19:3). Sua pergunta revela seus corações. Obviamente, pelo menos alguns deles queriam acreditar que o divórcio estava dentro da lei seja qual fosse o motivo.

Também preciso dizer que vergonha é quando cristãos pegam essas mesmas passagens sobre o divórcio, as interpretam mal e colocam correntes pesadas nos filhos de Deus. Jesus não estava falando sobre o cristão que se divorciou antes de ser salvo, e que quando encontra uma maravilhosa esposa em potencial que também ama a Cristo, se casa com ela. Isso não é equivalente a adultério. Se for isso que Jesus quis dizer, teremos que mudar o evangelho, pois ele não mais oferece perdão por todos os pecados dos pecadores. De agora em diante teremos que pregar: “Jesus morreu por você, e se você se arrepender e acreditar nEle, terá todos seus pecados perdoados. Contudo, se você foi divorciado nunca se recase, pois estará vivendo em adultério, e a Bíblia diz que adúlteros irão para o inferno. Também, se você foi divorciado e recasou, antes de vir para Cristo precisa cometer mais um pecado e se divorciar de sua esposa atual. Caso contrário continuará vivendo em adultério e adúlteros não são salvos.” [7] É esse o evangelho? [8]

Sejam Honestos, Diferentemente dos Escribas e Fariseus (Be Honest, Unlike the Scribes and Pharisees)

O terceiro exemplo de Jesus sobre má conduta e uso incorreto das Escrituras pelos escribas e fariseus está relacionado ao mandamento de Deus sobre dizer a verdade. Aprendemos em Mateus 23:16-22 que eles não se sentiam obrigados a manter seus votos se jurassem pelo templo, pelo altar ou pelo céu. Contudo, se jurassem pelo ouro do templo, pela oferta no altar ou por Deus no céu, eles eram obrigados a manter seus votos! Um adulto era equivalente a uma criança que pensa estar isenta de dizer a verdade desde que seus dedos estejam cruzados atrás de suas costas. Jesus espera que Seus discípulos digam a verdade.

Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: “Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor”. Mas eu lhe digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo. Seja o seu “sim”, “sim”, e o seu “não”, “não”; o que passar disso vem do Maligno (Mt. 5:33-37).

O mandamento original de Deus a respeito de juramentos nada dizia sobre fazer votos jurando por outras coisas. Deus queria que Seu povo falasse a verdade o tempo todo, então nunca haveria necessidade de jurar.

Não há nada de errado em fazer um voto, pois isso nada mais é que uma promessa. Na verdade, votos para obedecer a Deus são muito bons. A salvação começa com o voto de seguir a Jesus. Mas quando as pessoas precisam jurar por algo para convencer outros a acreditarem nelas, isso mostra claramente que elas normalmente mentem. Pessoas que sempre dizem a verdade nunca precisam jurar. Ainda assim, muitas igrejas, hoje, estão cheias de mentirosos e os ministros são, muitas vezes, os líderes em fraudes e trapaças.

O discipulador deixa um exemplo de honestidade e ensina seus discípulos a sempre dizerem a verdade. Ele sabe que João nos advertiu dizendo que todos os mentirosos serão lançados no inferno dentro do lago de fogo que arde com enxofre (Ap. 21:8).

Não se Vingue, como os Escribas e Fariseus (Don’t Take Revenge, as do the Scribes and Pharisees)

O próximo item na lista de desgosto de Jesus era a perversão farisaica de um versículo bem conhecido do Velho Testamento. Já consideramos essa passagem no capítulo sobre interpretação bíblica.

Vocês ouviram o que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado (Mt. 5:38-42).

A Lei de Moisés declara que quando uma pessoa é julgada culpada no tribunal por prejudicar outra pessoa, sua punição deve ser equivalente ao mal que causou. Se ele arrancasse o dente de alguém, em lealdade e justiça, seu dente deveria ser arrancado. Esse mandamento foi dado para garantir que a justiça por ofensas maiores fosse feita no tribunal. Deus instituiu um sistema de cortes e juízes debaixo da Lei para dissuadir o crime, garantir a justiça, e frear a vingança. E mandou que os juízes fossem imparciais e justos em seus julgamentos. Eles deveriam exigir “olho por olho e dente por dente.” Mas essa frase e mandamento são sempre encontrados em passagens sobre a justiça em tribunais.

Contudo, mais uma vez, os escribas e fariseus torceram o mandamento, tornando-o um mandamento que fazia a vingança pessoal uma obrigação santa. Aparentemente, eles adotaram uma política de “tolerância zero”, buscando vingança pelas menores ofensas.

Mas Deus sempre esperou mais de Seu povo. A vingança é algo que Ele proibiu estritamente (veja Dt. 32:35). O Velho Testamento ensinou que o povo de Deus deve mostrar bondade aos seus inimigos (veja Ex. 23:4-5; Pv. 25:21-22). Jesus confirmou essa verdade dizendo aos Seus discípulos para oferecerem a outra face e andar mais uma milha quando se tratasse de pessoas más. Quando somos injustiçados, Deus quer que sejamos misericordiosos, pagando o mal com o bem.

Mas Jesus espera que permitamos que pessoas tirem muita vantagem de nós, deixando-os arruinar nossas vidas se desejarem? É errado levar um ímpio a um tribunal buscando justiça por um ato ilegal cometido contra nós? Não. Jesus não estava falando sobre obter justiça por ofensas maiores em cortes, mas sobre vingança pessoal por pequenas infrações. Note que Jesus não disse que devemos oferecer nosso pescoço para ser estrangulado a alguém que acabou de nos esfaquear pelas costas. Ele não disse que devemos dar a alguém nossa casa quando pedem nosso carro. Jesus estava simplesmente dizendo para mostrarmos misericórdia e tolerância em alto nível quando encontrarmos diariamente pequenas ofensas e desafios normais ao lidar com pessoas egoístas. Ele quer que sejamos mais bondosos do que elas esperam que sejamos. Os escribas e fariseus nem chegaram perto desse padrão.

Por que tantos cristãos professos são ofendidos tão facilmente? Por que se angustiam tão rapidamente por ofensas que são dez vezes menores que receber um tapa no rosto? Essas pessoas são salvas? O discipulador deixa um exemplo oferecendo a outra face e ensina seus discípulos a fazerem o mesmo.

Não Odeiem Seus Inimigos, como os Escribas e Fariseus (Don’t Hate Your Enemies, as do the Scribes and Pharisees)

Finalmente, Jesus listou mais um mandamento dado por Deus que os escribas e fariseus alteraram para acomodar seus corações cheios de ódio.

Vocês ouviram o que foi dito: “Ame seu próximo e odeie seu inimigo”. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre os maus e bons e derrama chuva sobre os justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês (Mt. 5:43-48).

No Velho Testamento, Deus disse: “ame cada um o seu próximo assim como a si mesmo” (Lv. 19:18), mas os escribas e fariseus definiram convenientemente que o próximo era somente as pessoas que os amavam. Todos os outros eram inimigos, e já que Deus só disse para amarmos nosso próximo, deve ser apropriado odiar nossos inimigos. Contudo, de acordo com Jesus isso não chega perto do que Deus quis dizer.

Mais tarde Jesus ensinaria na história do Bom Samaritano que devemos considerar todas as pessoas como nosso próximo. [9] Deus quer que amemos a todos, incluindo nossos inimigos. Esse é o padrão de Deus para Seus filhos, um padrão pelo qual Ele mesmo vive. Ele manda sol e chuva para a plantação tanto das pessoas boas, como das más. Devemos seguir Seu exemplo, mostrando bondade às pessoas que não merecem. Quando fazemos isso mostramos que somos “filhos de [nosso] Pai que está nos céus” (Mt. 5:45). Pessoas autenticamente renascidas agem como seu Pai.

O amor que Deus espera que mostremos a nossos inimigos não é uma emoção ou aprovação de sua maldade. Deus não espera que cultivemos sentimentos por aqueles que se opõem a nós. Ele não está nos mandando falar coisas que não são verdade, que nossos inimigos são pessoas maravilhosas. Mas Ele espera que sejamos misericordiosos com eles e trabalhemos para esse fim, pelo menos cumprimentando-os e orando por eles.

Note que mais uma vez Jesus reforçou Seu tema principal — somente os santos herdarão o Reino de Deus. Ele disse a Seus discípulos que se amassem somente aqueles que os amavam, não eram melhores que os gentios pagãos e coletores de impostos, dois tipos de pessoas que todos judeus teriam concordado que iriam para o inferno. Era outra maneira de dizer que pessoas que amam somente aqueles que os amam vão para o inferno.

Faça o Bem pelos Motivos Certos, ao Contrário dos Escribas e Fariseus (Do Good for the Right Motives, Unlike the Scribes and Pharisees)

Jesus não só espera que Seus seguidores sejam santos, mas que sejam santos pelos motivos corretos. É bem possível obedecer aos mandamentos de Jesus e ainda assim não agradá-lo, se a obediência se originar de um motivo errado. Jesus condenou os escribas e fariseus porque faziam todas as boas obras para simplesmente impressionar os outros (veja Mt. 23:5). Ele espera que Seus discípulos sejam diferentes.

Tenham o cuidado de não praticar suas “obras de justiça” diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas das sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo sua mão direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará (Mt. 6:1-4).

Jesus esperava que Seus seguidores dessem esmolas aos pobres. A Lei mandava (veja Ex. 23:11; Lv. 19:10; 23:22; 25:35; Dt. 15:7-11), mas os escribas e fariseus tocavam trombetas ostensivamente para chamar os pobres às suas generosas distribuições públicas. Mesmo assim, quantos cristãos professos nada dão aos pobres? Eles nem chegaram ao ponto de precisar examinar seus motivos de dar esmolas. Se egocentrísmo motivou os escribas e fariseus a anunciar publicamente suas doações, o que motiva cristãos professos a ignorar o apuro dos pobres? Com respeito a isso, a santidade deles supera a dos escribas e fariseus?

Como Paulo repetiria em 1 Coríntios 3:10-15, podemos fazer coisas boas pelos motivos errados. Se nossos motivos não forem puros, nossas boas obras não serão recompensadas. Paulo disse que é possível até pregar o evangelho pelos motivos errados (veja Fp. 1:15-17). Como Jesus aconselhou, um bom modo de termos certeza que estamos dando esmolas por motivos puros é dar secretamente, sem deixar nossa mão esquerda saber o que a direita está fazendo. O discipulador ensina seus discípulos a dar aos pobres (provendo que eles tenham recursos), e pratica em silêncio o que prega.

Oração e Jejum pelos Motivos Certos (Prayer and Fasting for the Right Reasons)

Jesus também esperava que Seus seguidores orassem e jejuassem, e que fizessem tais coisas, não para serem vistos por outras pessoas, mas para agradarem a Seu Pai. Caso contrário, elas não seriam diferentes dos escribas e fariseus que iam em direção ao inferno, que oravam e jejuavam para receber o louvor do povo, uma recompensa bem temporária. Jesus advertiu Seus seguidores:

E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.

Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará (Mt. 6:5-6, 16-18).

Quantos cristãos professos nunca tiveram uma vida de oração e nunca jejuaram? [10] Com respeito a isso, como a santidade deles se compara à dos escribas e fariseus, que praticam ambas (apesar de pelos motivos errados)?

Uma Digressão à Respeito da Oração e Perdão (A Digression Regarding Prayer and Forgiveness)

Enquanto estamos no assunto da oração, Jesus deu algumas instruções mais específicas a Seus discípulos à respeito de como deveriam orar. Ele quer que oremos de tal forma que não insultemos Seu Pai, negando, através das orações, o que Ele tem nos revelado sobre Si mesmo. Por exemplo, já que Deus sabe do que precisamos antes de pedirmos (Ele sabe tudo), não há razão para usarmos repetições insignificantes quando oramos:

E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem (Mt. 6:7-8).

Na verdade, nossas orações revelam o quanto conhecemos a Deus. Aqueles que O conhecem como é revelado em Sua Palavra oram para que a Sua vontade seja feita e que Ele seja glorificado. O maior desejo de seus corações é ser santo, agradando a Ele completamente. Isso é refletido no modelo de oração de Jesus, o que chamamos de Oração do Pai Nosso, que é o próximo ponto incluido nas intruções de Jesus aos Seus discípulos. Ela revela o que Ele espera de nossas prioridades e devoção: [11]

Vocês orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia (Mt. 6:9-11).

A preocupação principal dos discípulos de Jesus deve ser que o nome de Deus seja glorificado, respeitado, reverenciado e tratado como santo.

É claro que aqueles que oram para que o nome de Deus seja glorificado devem ser santos, glorificando o nome de Deus. Caso contrário, seria hipocrisia. Portanto, essa oração reflete o nosso desejo de que outros se submetam a Deus, assim como nós temos feito.

O segundo pedido da oração modelo é similar: “Venha o teu Reino.” A ideia de um reino implica que há um rei reinando em seu reino. O discípulo cristão deseja ver seu Rei, aquele que reina sobre sua vida, reinar sobre toda a terra. Que todos os joelhos se dobrem ao Rei Jesus em obediência e fé!

O terceiro pedido repete o primeiro e o segundo: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Novamente, como podemos fazer essa oração sinceramente sem nos submetermos à vontade de Deus em nossas vidas? O verdadeiro discípulo deseja que a vontade de Deus seja feita na terra assim como no céu — perfeita e completa.

Que o nome de Deus seja glorificado, que Sua vontade seja feita e que o Reino dEle venha devem ser mais importantes a nós que ter o alimento que sustenta, nosso “pão de cada dia.” Esse quarto pedido foi colocado em quarto por um motivo. A oração em si mesma reflete uma ordem correta de nossas prioridades, e nenhum sinal de orgulho é encontrado aqui. Os discípulos de Cristo servem a Deus e não às riquezas. O foco deles não é acumular tesouros terrenos.

Deixe-me adicionar que esse quarto pedido parece indicar que esse modelo de oração deve ser feito diariamente, no início de cada dia.

A Oração Modelo Continua (The Model Prayer Continues)

Os discípulos de Cristo pecam? Aparentemente, às vezes sim, já que Jesus os ensinou a pedir perdão por seus pecados.

Perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas (Mt. 6:12-15).

Os discípulos de Jesus percebem que sua desobediência ofende a Deus, e quando pecam, se sentem envergonhados. Eles querem que a mancha seja removida, e felizmente seu Pai celestial gracioso está disposto a perdoá-los. Mas eles devem pedir perdão, o quinto pedido encontrado no Pai Nosso.

Contudo, o perdão deles é condicional a eles perdoarem aos outros. Porque foram perdoados de tantas coisas, têm a obrigação de perdoar a todos os que lhes pedirem perdão (e amar e trabalhar pela reconciliação com aqueles que não pedirem). Se eles se recusarem a perdoar, Deus não os perdoará.

O sexto e último pedido, sem dúvida também reflete o desejo do verdadeiro discípulo de ser santo: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal [ou do ‘maligno’].” O verdadeiro discípulo deseja tanto a santidade que pede a Deus para não deixá-lo entrar em uma situação em que possa ser tentado, para que não caia. Mais adiante, ele pede que Deus o livre de qualquer mal que possa capturá-lo. Com certeza essa é uma ótima oração para ser feita no início de cada dia, antes de irmos a um mundo de maldades e tentações. E com certeza podemos esperar que Deus responda a essa oração que nos mandou fazer.

Aqueles que conhecem a Deus entendem porque todos os seis pedidos dessa oração são tão apropriados. A razão é revelada na última linha: “Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre” (Mt. 6:13). Deus é um grande Rei que reina sobre seu Reino, no qual somos Seus servos. Ele é todo-poderoso e ninguém deve ousar resistir a Sua vontade. Toda a glória pertence a Ele para sempre. Ele é digno de ser obedecido.

Qual é o tema dominante na oração do Pai Nosso? Santidade. Os discípulos de Cristo desejam que o nome de Deus seja glorificado, que Seu Reino seja estabelecido na terra e que Sua vontade seja feita perfeitamente em todos os lugares. Isso é até mais importante para eles que o pão de cada dia. Eles querem ser agradáveis aos olhos de Deus e quando fracassam, querem o perdão dEle. Como pessoas perdoadas, estendem perdão aos outros. Desejam ser perfeitamente santos, a ponto de desejarem evitar a tentação, porque a tentação aumenta suas chances de pecar.

O Discípulo e Suas Posses Materiais (The Disciple and His Material Possessions)

O próximo tópico do Sermão do Monte é potencialmente muito perturbador para crentes professos que têm como motivação principal da vida a acumulação sempre maior de bens materiais:

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de vocês são trevas, que tremendas trevas são! Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt. 6:19-24).

Jesus mandou que não acumulássemos tesouros na terra. Então, o que constitui um “tesouro”? Tesouros, no sentido literal, são guardados em baús, escondidos em algum lugar e nunca usados para coisas práticas. Jesus os definiu como coisas que atraem traças, ferrugens e ladrões. Outro modo de dizer isso seria: “não essenciais.” Traças comem o que está no fundo de nossos guarda-roupas, não o que usamos com frequencia. A ferrugem destrói as coisas que quase não usamos. Em países mais desenvolvidos, na maioria das vezes, os ladrões roubam coisas que as pessoas não precisam verdadeiramente: quadros, joias, objetos caros, e o que pode ser penhorado.

Um verdadeiro discípulo precisa “renunciar a tudo o que possui” (veja Lc. 14:33). Ele é somente um mordomo do dinheiro de Deus; por isso, cada decisão de gastar dinheiro é uma decisão espiritual. O que fazemos com nosso dinheiro reflete quem está controlando nossas vidas. Quando acumulamos “tesouros,” amontoando dinheiro e comprando o que não é essencial, revelamos que Jesus não está no controle pois se estivesse, estaríamos fazendo melhor uso do dinheiro que confiou a nós.

O que são essas coisas melhores? Jesus nos mandou acumular tesouros no céu. Como isso é possível? Ele nos diz no evangelho de Lucas: “Vendam o que têm e dêem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói” (Lc. 12:33).

Quando damos dinheiro para ajudar os pobres e espalhamos o evangelho, estamos acumulando tesouros no céu. Jesus está nos dizendo para pegar o que, com certeza, irá deteriorar a ponto de ficar sem valor algum e investir em algo que nunca deteriorará. É isso que o discipulador faz, e consequentemente, ensina seus discípulos a fazerem.

O Olho Mau (The Bad Eye)

O que Jesus quis dizer quando falou sobre as pessoas com olhos bons e corpos cheios de luz, e pessoas com olhos maus e corpos cheios de trevas? Suas palavras devem ter alguma coisa a ver com dinheiro e bens materiais, porque era sobre isso que Ele estava falando antes e depois.

A palavra grega traduzida “mau” em 6:23 é a mesma palavra traduzida em Mateus 20:15 como “inveja.” Lá, lemos sobre um senhor que diz a seu trabalhador: “O seu olho está com inveja porque eu sou generoso?*” Obviamente um olho não pode ficar literalmente com inveja. Portanto, a expressão “um olho invejoso (ou mau)” fala sobre alguém com desejos ávidos. Isso nos ajuda a entender melhor o que Cristo quis dizer em Mateus 6:22-23.

A pessoa com o olho bom simboliza alguém puro de coração, que permite que a luz da verdade entre nela. Portanto, ele serve a Deus e acumula tesouros, não na terra, mas no céu onde está o seu coração. A pessoa com o olho mau não permite que a luz da verdade entre, pois acha que já tem a verdade, e portanto, está cheio de trevas, acreditando em mentiras. Ele acumula tesouros na terra, onde está seu coração. Ele acredita que o propósito de sua vida seja a gratificação própria. O dinheiro é seu deus. Ele não está destinado ao céu.

O que significa ter o dinheiro como seu deus? Significa que ele tem um lugar em sua vida que somente Deus deveria ter por direito; ele dirige sua vida; ele consome sua energia, pensamentos e tempo; é a fonte principal de sua alegria; você o ama. [12] É por isso que Paulo igualou a ganância à idolatria, dizendo que nenhum ganancioso herdará o Reino de Deus (veja Ef. 5:5; Cl. 3:5-6).

Ambos, Deus e o dinheiro querem ser mestres de nossas vidas, e Jesus disse que não podemos servir aos dois. Novamente, vemos que Jesus ficou com Seu tema principal — Somente os santos herdarão o Reino de Deus. Ele deixou bem claro que as pessoas que estão cheias de trevas, que têm o dinheiro como deus, têm o coração na terra e acumulam tesouros terrenos, não estão na estrada estreita que leva à vida.

Os Pobres Invejosos (The Covetous Poor)

Preocupação com bens materiais não são erradas somente quando eles forem luxuosos. Uma pessoa pode estar se preocupando de forma errada com bens materiais até mesmo quando essas necessidades são básicas. Jesus continuou:

Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou “Que vamos vestir?” Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal (Mt. 6:25-35).

Muitos leitores desse livro podem não se relacionar com pessoas na mesma situação que as que Jesus estava se dirigindo. Quando foi a última vez que você se preocupou em ter comida, bebida ou roupas?

Contudo, as palavras de Jesus têm aplicação a todos nós. Se for errado se preocupar com os essenciais da vida, quanto mais se preocupar com os não essenciais? Jesus espera que Seus discípulos focalizem principalmente em buscar duas coisas: Seu Reino e Sua justiça. Quando um cristão professo não pode dizimar (um mandamento da antiga aliança, devo adicionar), mas pode comprar coisas materiais não essenciais, ele está alcançando o padrão de Cristo de buscar Seu Reino e justiça? A resposta é óbvia.

Não Seja uma Pessoa que Procura por Defeitos (Don’t be a Fault-Finder)

Os próximos mandamentos de Jesus aos Seus seguidores são a respeito dos pecados de julgar e encontrar defeitos:

Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: “Deixe-me tirar o cisco do seu olho”, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão (Mt. 7:1-5).

Mesmo que Jesus não tenha acusado os escribas e fariseus nessa passagem, eles com certeza eram culpados desse pecado sob consideração: eles encontraram defeito nEle!

O que exatamente Jesus quis dizer nessa advertência contra julgar os outros?

Primeiro, vamos levar em consideração o que Ele não quis dizer. Ele não quis dizer que não devemos discernir e determinar essenciais sobre o caráter das pessoas ao observarmos suas ações. Isso é bem claro. Diretamente após essa seção, Jesus instruiu Seus discípulos a não lançarem pérolas aos porcos ou dar aos cães o que é sagrado (veja 7:6). Obviamente, Ele estava falando figurativamente de certos tipos de pessoas, referindo-Se a elas como porcos e cães, pessoas que não apreciam o valor das coisas sagradas, “pérolas,” que lhes estão sendo dadas. Elas são, obviamente, pessoas perdidas; e com certeza, devemos julgar se as pessoas são porcos e cães se formos obedecer a esse mandamento.

Mais adiante, Jesus logo disse aos Seus discípulos como julgar falsos profetas que estão “vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos” (veja 7:15): inspecionando seus frutos. Claramente, para obedecer as instruções de Jeus devemos observar o estilo de vida das pessoas e fazer julgamentos.

Similarmente, Paulo disse aos crentes de Contínto:

Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer (1 Co. 5:11).

Obedecer a essa instrução requer que examinemos os estilos de vida das pessoas e façamos julgamentos sobre elas, nos baseando no que observamos.

O apóstolo João também nos disse que podemos discernir facilmente quem pertence a Deus e quem pertence ao Diabo. Olhando para os estilos de vida das pessoas, é fácil identificar os salvos e os perdidos (veja Jo. 3:10).

Tudo isso sendo verdade, discernir o caráter das pessoas examinando suas ações e julgando se pertencem a Deus ou ao Diabo não é o pecado sobre o qual Cristo nos advertiu. Então, o que Jesus quis dizer?

Jesus estava falando sobre encontrar pequenos defeitos, ciscos, em um irmão (note que Jesus usa a palavra irmão três vezes nessa passagem). Ele não estava nos advertindo sobre julgar pessoas dizendo que não são crentes por observarmos defeitos evidentes (como logo nos instruirá a fazer neste mesmo sermão); pelo contrário, essas são instruções de como cristãos devem tratar cristãos. Eles não devem procurar pequenos defeitos uns nos outros, especialmente quando eles mesmos são cegos aos seus próprios defeitos, que são ainda maiores. Em tais casos eles são hipócritas. Como Jesus disse certa vez a uma multidão de juízes hipócritas: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra nela” (Jo. 8:7).

O apóstolo Tiago, autor da epístola que é quase paralela ao Sermão do Monte, escreveu similarmente: “Irmãos, não se queixem uns dos outros, para que não sejam julgados. O Juíz já está às portas!” (Tg. 5:9). Talvez isso também nos ajude a entender algo sobre o que Jesus estava nos advertindo — encontrar defeitos em outros companheiros cristãos e, então, espalhar o que encontramos, reclamando uns dos outros. Esse é um dos pecados mais predominantes na Igreja, e aqueles que são culpados se colocam em uma perigosa posição: a de serem julgados. Quando falamos contra um companheiro cristão, mostrando seus defeitos aos outros, estamos violando a lei de ouro, porque não queremos que os outros falem mal de nós em nossa ausência.

Podemos falar amavelmente a um companheiro cristão sobre seu defeito, mas somente quando for possível fazê-lo sem hipocrisia, certos de que não somos culpados (ou mais culpados) do mesmo pecado que é a pessoa que estamos confrontando. Contudo, é uma completa perca de tempo fazer isso com um ímpio, o que parece ser o assunto do próximo versículo. Jesus disse:

Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão (Mt. 7:6).

Similarmente, um provérbio diz: “Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreenda o sábio, e ele te amará” (Pv. 9:8). Outra vez, Jesus disse aos Seus discípulos para baterem o pó de suas sandálias contra aqueles que rejeitaram o evangelho. Uma vez que os “cães” tenham sido identificados por sua falta de apreciação pela verdade, Deus não quer que Seus servos percam tempo tentando alcançá-los enquanto outros não tiveram a mesma oportunidade.

Encorajamento para Orar (Encouragement to Pray)

Finalmente chegamos à última seção do corpo do sermão de Jesus. Ela começa com algumas promessas de oração encorajadoras:

Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a pora será aberta. Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem! (Mt. 7:7-11).

“Ahá!” um leitor em algum lugar pode estar dizendo. “Aqui está uma parte do Sermão do Monte que nada tem a ver com santidade.”

Tudo isso depende do que estamos pedindo, onde estamos batendo e o que buscamos em oração. Como aqueles que “têm fome e sede de justiça,” desejamos obedecer a todos os mandamentos que Jesus deu em Seu sermão, e esse desejo é com certeza refletido em nossas orações. Aliás, o modelo de oração que Jesus compartilhou mais cedo nesse mesmo sermão foi a expressão de desejo para que a vontade de Deus seja feita e para que haja santidade em nós.

Mais adiante, (levando em consideração) a versão de Lucas dessas mesmas promessas de oração termina assim: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc. 11:13). Jesus não estava pensando em coisas luxuosas quando nos prometeu “boas coisas.” Em Sua mente, o Espírito Santo é uma “boa coisa,” porque Ele nos faz mais santos e nos ajuda a espalhar o evangelho, o que faz com que outras pessoas se tornem santas. E pessoas santas vão para o céu.

Outras boas coisas são aquelas que estão dentro da vontade de Deus. Obviamente, a prioridade de Deus é a Sua vontade e Seu Reino; portanto, devemos esperar que nossas orações por algo que aumentará nossa utilidade no Reino de Deus sempre serão respondidas.

Uma Frase Conclusiva (A Summarizing Statement)

Agora chegamos a um versículo que deveria ser considerado um resumo de praticamente tudo o que Jesus disse até esse ponto. Muitos comentaristas não percebem isso, mas é importante que percebamos. Esse versículo em particular é obviamente um resumo, já que começa com a palavra assim. Portanto, ele está ligado às instruções anteriores, e a pergunta é: Ele resume quanto daquilo que Jesus falou? Vamos ler e pensar:

Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas (Mt. 7:12).

Essa frase não pode ser um resumo somente dos poucos versículos antes dela; a respeito da oração, caso contrário, não faria sentido.

Lembre-se que no início de Seu sermão, Jesus advertiu contra o erro de pensarmos que veio para abolir a Lei ou os Profetas (veja Mt. 5:17). Daquele ponto em Seu sermão até o versículo em que chegamos, Ele falou praticamente nada a não ser confirmar e explicar os mandamentos de Deus no Velho Testamento. Portanto, agora Ele resume tudo o que mandou, tudo o que explicou da Lei e dos Profetas: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (7:12, ênfase adicionada). A frase “a Lei e os Profetas,” conecta tudo o que Jesus disse entre Mateus 5:17 e 7:12.

Agora, enquanto Jesus começa a conclusão de Seu sermão, Ele volta ao Seu tema principal mais uma vez — Somente os santos herdarão o Reino de Deus:

Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram (Mt. 7:13-14).

Obviamente, a porta e o caminho estreitos que levam à vida, que poucos encontram, são uma simbologias da salvação. A porta e o caminho largos que levam à destruição, o caminho da maioria, simbolizam a perdição. Se tudo o que Jesus disse anteriormente a essa frase significa alguma coisa, se esse sermão tem uma lógica progressiva, se Jesus tinha qualquer perspicácia como comunicador, então a interpretação mais natural seria que o caminho estreito é o caminho seguindo a Jesus, obedecendo aos Seus mandamentos. O caminho largo seria o oposto. Quantos cristãos professos estão no caminho estreito descrito nesse sermão? O discipulador, com certeza, está no caminho estreito, e guia seus discípulos no mesmo caminho.

É incompreensível a alguns cristãos professos que Jesus nada tenha dito sobre fé ou crença nEle nesse sermão em que disse tanto sobre salvação e perdição. Contudo, para aqueles que entendem a correlação inseparável entre crença e comportamento, esse sermão não apresenta problema algum. Pessoas que obedecem a Jesus mostram sua fé pelas obras. Aqueles que não O obedecem, não acreditam que Ele é o Filho de Deus. Nossa salvação não é só uma amostra da graça de Deus para nós, é também a transformação de nossas vidas. Nossa santidade é na verdade Sua santidade.

Como Reconhecer Falsos Líderes Religiosos (How to Recognize False Religious Leaders)

Enquanto Jesus continuava Suas observações finais, avisou Seus discípulos sobre falsos profetas que levam os desatentos ao caminho da destruição. Os falsos profetas são aqueles que não pertencem realmente a Deus, mas se disfarçam como tais.Todos os falsos líderes e profetas entram nessa categoria. Como podem ser identificados?

Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?” Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! (Mt. 7:15-23).

Jesus indicou claramente que falsos profetas são muito enganosos. Eles têm algumas indicações exteriores de serem genuínos; podem dizer que Jesus é seu Senhor, profetizar, expulsar demônios e fazer milagres. Mas as “peles de ovelhas” só escondem os “lobos devoradores.” Eles não são ovelhas de verdade. Como podemos saber se são verdadeiros ou falsos? Examinando seus “frutos” podemos identificar o verdadeiro caráter deles.

Quais são os frutos dos quais Jesus falava? Obviamente, não são frutos de milagres. São frutos de obediência a tudo o que Jesus ensinou. Aqueles que são verdadeiras ovelhas fazem a vontade do Pai. Aqueles que são falsas ovelhas “praticam o mal” (7:23). Então, nossa responsabilidade é comparar suas vidas com o que Jesus ensinou e mandou.

As igrejas hoje estão cheias de falsos profetas, e isso não deve nos surpreender, porque tanto Jesus como Paulo nos avisaram que devemos esperar nada menos que isso quando o fim estiver se aproximando (veja Mt. 24:11; 2 Tm. 4:3-4). Os falsos profetas mais predominantes de nossos dias são aqueles que ensinam que o céu aguarda os não-santos. Eles são responsáveis pela perdição eterna de milhões de pessoas. A respeito delas, John Wesley escreveu:

Como isso é horrível! — quando os embaixadores de Deus se tornam agentes do Diabo! — Quando aqueles que são comissionados a ensinar aos homens o caminho para o céu ensinam, na verdade, o caminho para o inferno….Se perguntarem: “Por que?Quem fez isso?”…Eu respondo: dez mil homens sábios e honrados; até mesmo aqueles, de qualquer denominação, que incentivam o orgulhoso, o leviano, o exaltado, o amante do mundo, o homem de prazeres, o injusto ou mau, o cômodo, o inocente, o imprestável, o homem que não é repreendido a segurança da retidão, para imaginar que ele está no caminho para o céu. Esses são falsos profetas de maior juízo do mundo. Eles são traidores tanto de Deus como do homem….Eles estão constantemente povoando o domínio das trevas; e quando seguem as pobres almas que destruiram, “o inferno sairá das profundezas para encontrá-los em sua chegada!” [13]

Interessantemente, Wesley estava comentando especificamente sobre os falsos profetas sobre quem Jesus falava em Mateus 7:15-23.

Note que Jesus disse claramente, mais uma vez, o contrário do que muitos falsos profetas dizem hoje: que aqueles que não derem bons frutos serão lançados no inferno (veja 7:19). Mais adiante, isso se aplica não só a falsos mestres e profetas, mas a todos. Jesus disse: “Nem todo aquele que me diz:’Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt. 7:21). O que se aplica aos profetas se aplica a todos. Esse é o tema principal de Jesus — Somente os santos herdarão o Reino de Deus. As pessoas que não estão obedecendo a Deus estão destinadas ao inferno.

Note também a conexão que Jesus fez entre o que uma pessoa é por dentro e por fora. “Boas” árvores produzem bons frutos. Árvores “ruins” não podem produzir frutos bons. A fonte do bom fruto que se mostra pelo lado de fora é a natureza da pessoa. Por Sua graça, Deus tem mudado a natureza daqueles que têm verdadeiramente crido em Jesus. [14]

Um Aviso e Resumo Final (A Final Warning and Summary)

Jesus concluiu Seu sermão com um aviso final e exemplo resumidor. Como é de se esperar, é uma ilustração de Seu tema — Somente os santos herdarão o Reino de Deus.

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda (Mt. 7:24-27).

A ilustração final de Jesus não é uma fórmula para termos “sucesso na vida” como alguns a usam. O contexto mostra que Ele não estava dando conselhos práticos financeiros para os tempos difíceis tendo fé em Suas promessas. Esse é o resumo de tudo o que Jesus disse em Seu Sermão do Monte. Aqueles que fazem o que Ele manda são sábios e permanecerão; eles não precisam temer a ira de Deus quando ela descer. Aqueles que não O obedecem são insensatos e sofrerão grandemente, pagando “a pena de destruição eterna” (2 Ts. 1:9).

Resposta para uma Pergunta (Answer to an Question)

Não é possível, que o Sermão do Monte de Jesus só se aplicava àqueles seguidores que viveram antes de Sua morte sacrificial e ressurreição? Eles não estavam debaixo da Lei, como meio temporário de salvação, mas depois que Jesus morreu por seus pecados, foram salvos pela fé, invalidando, portanto, o tema exposto nesse sermão?

Essa teoria é ruim. Ninguém foi salvo por suas obras. Sempre tem sido pela fé, antes e durante a antiga aliança. Paulo argumenta em Romanos 4 que Abraão (antes da antiga aliança) e Davi (durante a antiga aliança) foram justificados pela fé e não por obras.

Além do mais, é impossível que qualquer um na audiência de Jesus pudesse ser salvo pelas obras, porque todos tinham pecado e sido destituídos da glória de Deus (veja Rm. 3:23). Somente a graça de Deus poderia salvá-los, e somente a fé poderia receber Sua graça.

Infelizmente, muitos na igreja, hoje, veem os mandamentos de Jesus sem um propósito maior que nos fazer sentir culpados para que vejamos a impossibilidade de receber a salvação pelas obras. Agora que “entendemos a mensagem” e fomos salvos pela fé, podemos ignorar a maioria de Seus mandamentos. A menos, é claro, que queiramos “salvar” os outros. Então, podemos usar todos os mandamentos novamente para mostrar aos outros como eles são pecaminosos para que sejam salvos pela “fé” que invalida as obras.

No entanto, Jesus não disse aos Seus discípulos: “Vão a todo o mundo e façam discípulos, e uma vez que eles se sintam culpados e sejam salvos pela fé, Meus mandamentos terão cumprido seus propósitos em suas vidas.” Ao invés disso, ele disse: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações…ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt. 19:20-21, ênfase adicionada). Discipuladores estão fazendo somente isso.

 


[1] É interessante notar que o próximo versículo no livro de Tiago é: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo?” (Tg. 2:14).

[2] Isso seria verdade sobre os “aspectos cerimoniais da Lei” assim como os “aspectos morais da Lei,” como são muitas vezes chamados; contudo, explicações a respeito do Seu cumprimento das leis cerimoniais seriam dadas pelo Espírito Santo aos apóstolos depois de Sua ressurreição. Agora entendemos porque não há necessidade de sacrificarmos animais debaixo da nova aliança, porque Jesus era o Cordeiro de Deus. Também não seguimos as leis a respeito das refeições porque Jesus declarou que todos os alimentos são puros (veja Mc. 7:19). Não precisamos da intermediação de um sacerdote terreno, porque agora Jesus é nosso Sumo Sacerdote, e assim por diante. Contudo, diferentemente da lei cerimonial, nenhuma parte da lei moral foi alterada por qualquer coisa que Jesus tenha dito ou feito, antes ou depois de Sua morte e ressurreição. Pelo contrário, Jesus esclareceu e confirmou a lei moral de Deus, assim como os apóstolos fizeram pela inspiração do Espírito após Sua ressurreição. Os aspectos morais da Lei Mosaica estão todos incluídos na lei de Cristo, a lei da nova aliança. Também mantenha em mente que, naquele dia, Jesus estava a judeus debaixo da Lei Mosaica. Portanto, Suas palavras em Mateus 5:17-20 devem ser interpretadas à luz de Sua revelação constante encontrada no Novo Testamento.

[3] Além disso, se Jesus estivesse falando sobre a santidade legal imposta que recebemos como dom por acreditar nEle, por que, então não nos deu pelo menos uma dica? Por que Ele diria alguma coisa que poderia ser mal interpretada pelas pessoas iletradas a quem Ele falava, que nunca adivinhariam que Ele estava falando sobre santidade imposta?

[4] Isso se aplica a nosso relacionamento com nossos irmãos e irmãs em Cristo. Jesus chamou certos líderes religiosos de insensatos (veja Mt. 23:17), assim como as Escrituras em geral (veja Pv. 1:7; 13:20).

[5] É claro que Jesus não a culpa pelo adultério quando se recasar; ela foi apenas a vítima do pecado de seu marido. Obviamente, as palavras de Jesus não fazem sentido, a menos que ela se recase. Caso contrário, não faz sentido que seja considerada adúltera.

[6] Novamente, Deus não culparia o novo marido de adultério. Ao se casar e se tornar o provedor para uma mulher divorciada, ele está fazendo algo virtuoso. Contudo, se um homem encorajasse uma mulher a se divorciar de seu esposo para que se casasse com ela, então ele seria culpado de adultério, e talvez seja este o pecado que Jesus tinha em mente aqui.

[7] Existem, é claro, outras situações que podem ser endereçadas. Por exemplo, a mulher cristã cujo esposo incrédulo pede o divórcio, certamente não é culpada de adultério se recasar-se com um homem cristão.

[8] Endereçarei-me a esse assunto mais detalhadamente no capítulo sobre divórcio e recasamento.

[9] Foi um judeu, professor da Lei, que, querendo se justificar, perguntou a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Pode ter certeza que ele achava que já tinha a resposta certa. Jesus lhe respondeu com a parábola do samaritano, membro de uma raça que era odiada pelos judeus, que provou ser o próximo do judeu mal tratado (veja Lc. 10:25-37).

[10] Mais adiante nesse livro, incluí um capítulo inteiro dedicado ao jejum.

[11] Infelizmente, alguns alegam que essa não é uma oração que cristãos devam fazer , pois não é realizada “no nome de Jesus.” Contudo, se aplicarmos essa lógica, teremos que concluir que muitas das orações dos apóstolos registradas nas epístolas e no livro de Atos não eram “orações cristãs.”

* Nota do tradutor: versículo traduzido do inglês.

[12] Em outra ocasião, Jesus disse a mesma coisa sobre a impossibilidade de servir a Deus e as riquezas, e Lucas nos diz: “Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus” (Lc. 16:14). Então, novamente, aqui no Sermão do Monte, Jesus estava expondo claramente as práticas e ensinamentos dos fariseus.

[13] The Works od John Wesley (As Obras de John Wesley) (Baker: Grand Rapids, 1996), de John Wesley, reimpressão da edição de 1872 lançada pela Wesleyan Methodist Book Room, Londres, pag. 441, 416 [Trecho traduzido do ingles].

[14] Não posso deixar passar a oportunidade de comentar também sobre uma expressão comum que pessoas usam quando tentam justificar os pecados dos outros: “Não sabemos o que está em seu coração.” Contrário a isso, Jesus disse que o exterior revela o interior. Em outro lugar Ele disse: “Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mt. 7:34). Quando pessoas falam palavras de ódio, isso indica que o coração delas está cheio de ódio. Jesus também nos disse que “do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez” (Mc. 7:21-22). Quando uma pessoa comete adultério, sabemos o que está em seu coração: adultério.