Continuando Apropriadamente

Capítulo Três (Chapter Three)

Por muitos anos e de várias formas, sem perceber segui práticas que eram contra o objetivo que Deus tinha para mim, o objetivo de fazer discípulos. Mas gradualmente, o Espírito Santo abriu meus olhos para ver meus erros. Algo que tenho aprendido é: devo examinar tudo o que tenho visto e acreditado à luz da Palavra de Deus. Nossas tradições, mais que qualquer outra coisa, nos cegam para o que Deus tem falado. Pior, temos muito orgulho de nossas tradições, achando que estamos entre a elite que tem uma maior compreensão da verdade que outros cristãos. Como um professor disse sarcasticamente, “Existem 32,000 denominações no mundo hoje. Você não tem sorte de ser membro da única que é certa?”

Como resultado de nosso orgulho, Deus resiste a se aproximar de nós. Ele resiste ao orgulho. Se queremos progredir e estar preparados para ficar diante de Jesus, precisamos nos humilhar. A esses, Deus dá graça.

O Papel do Pastor Levado em Consideração (The Role of the Pastor Considered)

O objetivo do ministro fazedor de discípulos deve moldar tudo o que ele faz no ministério. Ele deve se perguntar continuamente: “Como o que eu estou fazendo irá contribuir com o processo de fazer discípulos que irão obedecer a todos os mandamentos de Jesus?” Essa simples pergunta, se feita honestamente, eliminará muito do que é feito sob a fachada de atividade cristã.

Vamos considerar o ministério de pastor/presbítero/bispo,[1] de alguém cuja tarefa foca uma igreja local específica. Se essa pessoa quer fazer discípulos que irão obedecer a todos os mandamentos de Jesus, qual deve ser uma de suas principais responsabilidades? Ensino vem naturalmente à mente. Jesus disse que discípulos são feitos por meio do ensino (veja Mt. 28:19-20). Um dos requisitos para alguém ser presbítero/pastor/ bispo é que ele seja “apto para ensinar” (1 Tm. 3:2). Aqueles “cujo trabalho é a pregação e o ensino” devem ser “dignos de dupla honra” (1 Tm. 5:17).

Portanto, um pastor deve avaliar cada sermão se fazendo a seguinte pergunta: “Como esse sermão ajudará a alcançar o objetivo de fazer discípulos?”

Contudo, será que a responsabilidade de ensinar do pastor é cumprida somente por seus sermões de domingo e de meio da semana? Se ele acha que sim, está fazendo vista grossa ao fato de que as Escrituras indicam que sua responsabilidade de ensino é cumprida principalmente através de sua vida e do exemplo que dá. O exemplo de ensino de sua vida diária é completado por seu ministério público de ensino. É por isso que as exigências para presbíteros/pastores/bispos têm muito mais a ver com o caráter e estilo de vida de uma pessoa do que com sua habilidade de comunicação verbal. De quinze requisitos para bispos, listados em 1 Timóteo 3:1-7, quatorze são relacionados ao caráter e somente um à habilidade de ensino. De dezoito requisitos para presbíteros, listados em Tito 1:5-9, dezessete são relacionados ao caráter e somente um à habilidade de ensino. Paulo primeiro lembrou a Timóteo, “Seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 Tm. 4:12b, ênfase adicionada). Depois ele disse, “Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino” (1 Tm. 4:13). Portanto, o exemplo do caráter de Timóteo foi mencionado antes de seu ministério de ensino público, enfatizando assim sua maior importância.

Pedro escreveu similarmente:

Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada: pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplo para o rebanho (1 Pe. 5:1-3, ênfase adicionada).

Quem nos inspira a negarmos a nós mesmos e obedecermos a Cristo? São aqueles cujos sermões admiramos ou aqueles cujas vidas admiramos? Pastores sem compromisso e de estilo leve não inspiram ninguém a carregar a cruz. Se tais pastores pregam uma mensagem de compromisso com Cristo de vez em quando, eles pregam com vagas generalidades, caso contrário, seus ouvintes questionariam sua sinceridade. A maioria dos líderes cristãos do passado não é lembrada pelos seus sermões, mas pelos seus sacrifícios. Seus exemplos nos inspiram muito tempo depois que se foram.

Se um pastor não dá exemplo de obediência como um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, ele perde tempo pregando qualquer sermão. Pastor, seu exemplo fala dez vezes mais alto do que seus sermões. Você está inspirando as pessoas a negarem a si mesmas e seguirem a Cristo enquanto você nega a si mesmo e segue a Cristo?

Mas como pode um pastor, por meio de exemplo e estilo de vida, ensinar pessoas que o conhecem apenas como um orador das manhãs de domingo? O mais perto que podem chegar de vê-lo viver sua vida é por meio de um aperto de mão de cinco segundos enquanto respeitosamente saem da igreja. Talvez exista alguma coisa que não está muito certa no modelo pastoral moderno.

O Sermão Semanal de Domingo de Manhã (The Weekly Sunday Morning Sermon)

Se o pastor pensa que sua principal responsabilidade de ensino é dar sermões semanais públicos, assumiu erroneamente de novo. O ministério de ensino de Jesus não consistiu somente de sermões públicos (e a maior parte deles parecia bem curto), mas também de conversas particulares que eram iniciadas por Seus discípulos inquiridores. Mais adiante, essas conversas não eram limitadas a meia hora de um dia da semana no edificio da igreja, mas acontecia nas praias, nas casas e nas caminhadas pelas estradas empoeiradas, enquanto Jesus vivia Sua vida plenamente à vista de Seus discípulos. Esse mesmo modelo de ensino foi seguido pelos apóstolos. Depois do Pentecostes, os doze ensinaram “no templo e de casa em casa” (At. 5:42, ênfase adicionada). Eles tinham interação diária com a comunidade de crentes. Paulo também ensinou “publicamente e de casa em casa” (At. 20:20, ênfase adicionada).

A esse ponto, se você é pastor, pode estar comparando seu ministério de ensino com aquele de Jesus e dos primeiros apóstolos. Talvez você esteja até começando a se perguntar se o que tem feito é o que Deus quer que você faça, ou se tem feito o que centenas de anos de tradição da igreja têm te ensinado a fazer? Se estiver se fazendo essa pergunta, isso é bom. É muito bom. Esse é o primeiro passo na direção certa.

Talvez você tenha ido ainda mais além. Talvez tenha dito a si mesmo: “Onde eu poderia encontrar o tempo que um ministério como esse requer, ensinando pessoas de casa em casa, ou os envolvendo em minha vida diária para que eu primeiramente os influencie pelo meu exemplo?” Agora, essa é uma pergunta maravilhosa, pois ela pode te levar a continuar se perguntando se há alguma coisa ainda mais errada no conceito do papel de pastor.

Talvez você tenha até pensado consigo mesmo, “Eu não tenho certeza de que gostaria de viver tão próximo das pessoas de minha igreja. A faculdade teológica me ensinou que um pastor nunca deve chegar muito perto de sua congregação. Ele deve manter uma distância para conservar o respeito profissional. Ele não pode ser amigo íntimo delas.”

Tal pensamento revela que realmente há algo de muito errado com o modo como, muitas vezes, as coisas são feitas na igreja moderna. Jesus era tão próximo dos doze que um deles se sentiu confortável para deitar sua cabeça em Seu peito em uma refeição comum (veja Jo. 13:23-25). Eles literalmente moraram juntos por alguns anos. Quanto trabalho hoje para manter uma distância profissional dos discípulos para ministrar com sucesso a eles!

Comparação de Métodos Antigos e Modernos

(A Comparison of Methods, Ancient and Modern)

Se o objetivo é obedecer a Jesus e fazer discípulos, não seria sábio seguir Seus métodos para fazer discípulos? Eles funcionaram bem para Ele. Também funcionaram bem para os apóstolos que O seguiram.

Quão bem os métodos modernos estão funcionando para fazer discípulos que obedecem a todos os mandamentos de Cristo? Quando, por exemplo, estudos feitos com crentes americanos mostram repetidamente que virtualmente não há diferença entre o estilo de vida da maioria de crentes professos e o dos descrentes, talvez seja hora de fazermos algumas perguntas e re-examinarmos as Escrituras.

Aqui está uma pergunta reveladora para fazermos a nós mesmos: Como a igreja primitiva teve tanto sucesso fazendo discípulos sem nenhum edificio sede, líderes profissionalmente treinados, faculdades teológicas e seminários, hinários e sistema de multimídia, microfones sem fio e duplicadores de fita, currículos de escola dominical e ministério de jovens, equipe de louvor e corais, computadores e copiadoras, rádios e canais de TV evangélicos, centenas e milhares de livros evangélicos e até Bíblia própria? Eles não precisaram de nenhuma dessas coisas para fazer discípulos e Jesus também não. E porque nenhuma delas era essencial lá, nenhuma é essencial agora. Elas podem ajudar, mas não são essenciais. De fato, muitas delas podem atrapalhar e na verdade nos atrapalham a fazer discípulos. Deixe-me dar dois exemplos.

Vamos primeiramente considerar o essencial moderno de ter somente pastores treinados em faculdades teológicas – ou seminários – liderando igrejas. Esse era um conceito desconhecido por Paulo. Em algumas cidades, depois de ter plantado igrejas, ele saia por algumas semanas ou meses, e então retornava para apontar líderes para administrá-las (veja, por exemplo, At. 13:14, 14:23). Isso significa que aquelas igrejas, privadas da presença de Paulo, não tiveram uma liderança formal por algumas semanas ou meses, e que a maioria dos líderes eram novos na fé quando apontados. Eles não tiveram nada parecido com uma educação formal de dois ou três anos para se prepararem para o trabalho.

Portanto, a Bíblia ensina que pastores/presbíteros/bispos não precisam de dois ou três anos de educação formal para serem efetivos em seus ministérios. Ninguém pode argumentar inteligentemente contra esse fato. Mesmo assim, o requisito moderno manda continuamente uma mensagem para cada crente: “Se você quer ser um líder na igreja, precisará de anos de educação formal.”[2] Isso faz o processo de formação de líderes mais lento, fazendo, então, mais lenta a formação de discípulos, atrasando assim a expansão da Igreja. Eu me pergunto o quanto as companhias americanas Avon e Amway teriam saturado seu público alvo se tivessem requerido que cada vendedor se mudasse com sua família para outra cidade para receber três anos de treinamento formal antes de poder vender sabão ou perfume?

“Mas o pastoreio é uma tarefa tão difícil e complexa!” alguns dizem. “A Bíblia diz que não devemos colocar um novo convertido na posição de bispo” (veja 1 Tm. 3:6).

Em primeiro lugar, a nossa definição de novo convertido é claramente diferente do conceito de Paulo, já que ele apontou pessoas para o cargo de presbítero/pastor/bispo que haviam se convertido há apenas alguns meses.

Em segundo lugar, um motivo para o pastoreio moderno ser tão difícil e complexo é o fato do nosso sistema inteiro de estrutura e ministério da igreja estar tão longe do modelo bíblico. Nós o fizemos tão complexo que, de fato, somente algumas pessoas super-humanas podem sobreviver as suas demandas!

“Deus nos livre de ter a igreja liderada por alguém sem uma faculdade teológica ou seminário!” outros dizem. “Esse líder sem treinamento pode levar seu rebanho a heresias!”

Essa aparentemente não era a preocupação de Paulo. O fato é que hoje temos líderes treinados por seminários e faculdades teológicas que não acreditam no nascimento virginal, aprovam a homossexualidade, ensinam que Deus quer que todos dirijam um automóvel de luxo, dizem que Deus predestinou algumas pessoas para serem condenadas, ou dizem sem vacilar que é possível receber a vida eterna sem obedecer a Cristo. As faculdades teológicas e seminários modernos têm várias vezes servido para promover falsas doutrinas, e os líderes profissionais têm servido para levá-las adiante.

Os “leigos” da igreja têm medo de contestá-los, porque os profissionais foram para seminários e podem encontrar mais “textos-prova.” Além do mais, esses líderes têm definido e dividido suas igrejas do resto do corpo de Cristo usando suas doutrinas peculiares, a ponto de colocar essas diferenças nos nomes que colocam nas placas na frente dos prédios de suas igrejas, mandando uma mensagem para o mundo: “Nós não somos como aqueles outros cristãos.” Para piorar a situação, eles se referem a qualquer um que discorde de suas doutrinas incontestáveis e divisórias como “causadores de divisão.” A Inquisição ainda está à tona, liderada por homens com diplomas. É esse o exemplo que Jesus quer dar usando aqueles que deviam estar fazendo discípulos que são conhecidos pelo mundo por seu amor uns pelos outros?

Os cristãos agora escolhem igrejas baseando-se em doutrinas particulares, e ter a teologia certa se tornou mais importante que ter o estilo de vida certo, tudo porque um modelo bíblico foi abandonado.

Uma Alternativa Bíblica (A Biblical Alternative)

Eu estarei ajudando a causa se der a convertidos de apenas três meses a liderança de uma igreja (a mesma coisa que Paulo fez)? Sim, mas somente se esses convertidos preencherem os requisitos bíblicos para presbíteros/bispos, e só se forem dados como líderes a igrejas que seguem um modelo bíblico. Isso é, a igreja deve ser primeiramente recém-plantada, submetida a um ministro-fundador maduro, como um apóstolo, que possa supervisioná-la.[3] Desse modo, líderes recém-apontados não estarão completamente sozinhos.

Segundo, as congregações devem ser pequenas o suficiente para se reunirem em casas, como a igreja primitiva.[4] Isso torna as igrejas mais manejáveis. É provavelmente por isso que um dos requisitos para presbíteros/bispos é que governem bem suas próprias famílias (veja Tm. 3:4-5). Administrar uma pequena “família da fé” não é muito mais desafiador que administrar uma família.

Terceiro, a congregação deve consistir de pessoas que responderam em arrependimento ao evangelho bíblico, e que são, assim, discípulos genuínos do Senhor Jesus Cristo. Isso elimina todos os desafios que surgem ao tentar pastorear ovelhas que são, na verdade, bodes.

E quarto, os pastores/presbíteros/bispos devem seguir seus papéis bíblicos ao invés dos papéis culturais. Isso é, eles não devem se posicionar no centro como astros, como fazem na maioria das igrejas modernas.[5] Ao invés disso, eles devem ser somente parte do corpo, servos humildes que ensinam pelo exemplo e preceito, que têm o objetivo de fazer discípulos, não por serem oradores aos domingos de manhã, mas por seguirem os métodos de Jesus.

Quando esse padrão é seguido, então alguns convertidos de três meses podem administrar igrejas.

Prédios da Igreja (Church Buildings)

E os prédios da igreja? Eles são outro “essencial” moderno que a Igreja primitiva passou muito bem sem. Eles ajudam o processo de fazer discípulos?

Quando eu era pastor, várias vezes me sentia mais como um corretor, banqueiro, contratante geral e um levantador de fundos profissional. Eu já sonhei com prédios, procurei por prédios, remodelei prédios velhos, aluguei prédios, construí prédios novos e os reformei quando Deus mandou chuva pelas rachaduras. Prédios consomem muito tempo e energia. O motivo de eu ter feito tantas coisas que giravam ao redor de prédios é que eu tinha certeza, como a maioria dos pastores, que não havia outra forma de obter sucesso sem um prédio, um lugar para a igreja se reunir.

Prédios também consomem dinheiro, muito dinheiro. (Nos Estados Unidos, algumas congregações consomem dezenas de milhões de dólares em seus prédios.) Depois de meus sonhos de ter prédios serem alcançados, eu sonhava várias vezes com o dia em que as hipotecas dos meus prédios seriam pagas, para que pudéssemos usar todo esse dinheiro para o ministério. Uma vez me ocorreu, enquanto eu ensinava minha congregação sobre boa mordomia e sair de dívidas, que eu tinha posto todos nós em dívidas! (Eu com certeza estava ensinando pelo exemplo.)

A maioria dos prédios de igrejas é usada por umas duas horas, uma ou duas vezes por semana. Que outra organização no mundo inteiro constrói prédios que serão usados tão pouco? (Resposta: apenas seitas e falsas religiões.)

Esse buraco de sugar dinheiro causa muitos problemas. Um pastor com um prédio sempre precisa de um fluxo de dinheiro, e isso afeta o que ele faz. Ele é tentado a atender aos ricos (os quais várias vezes dão sem nenhum sacrifício), a comprometer qualquer ensinamento que possa ofender alguém e a torcer as Escrituras para servir seu propósito. Seus sermões gravitam em assuntos que não prejudiquem o fluxo de dinheiro, mas encorajem seu aumento. Por causa disso, alguns cristãos, às vezes, chegam a pensar que os aspectos mais importantes de ser crente são (1) dar o dízimo (que a propósito, Jesus disse que é um mandamento menor) e (2) ir à igreja (onde os dízimos são recolhidos todos os domingos). Essa dificilmente é uma ilustração da formação de discípulos. Ainda assim, muitos pastores sonham em ter congregações onde todos fizessem somente essas duas coisas. Se um pastor tivesse uma congregação onde só a metade das pessoas fizesse essas coisas, ele poderia escrever livros e vender seus segredos para milhares de outros pastores!

Os fatos revelam isto: Não há registro de nenhuma congregação comprando ou construindo um prédio no livro de Atos. A maioria das vezes, os crentes reuniam-se regularmente em casas.[6] Nunca houve uma coleta para a construção de prédios. Não há instruções nas epístolas para a construção de prédios. Além disso, ninguém pensou em construir uma igreja até que o cristianismo atingisse 300 anos, quando a igreja se uniu ao mundo debaixo do decreto de Constantino. Trezentos anos! Pense em quanto tempo isso é! E a igreja floresceu e se multiplicou espontaneamente, mesmo durante tempos de perseguição intensa, tudo isso sem prédios. Tal fenômeno tem se repetido muitas vezes nos séculos que se seguiram. Tem acontecido na China recentemente. Provavelmente existem mais de um milhão de igrejas nos lares na China.

Domingo às Nove Horas é a Hora de maior Segregação (Eleven O’Clock Sunday is the Most Segregated Hour)

É esperado que instalações de igrejas modernas que imitam o modelo americano tenham, no mínimo, espaço dividido o suficiente para prover salas separadas para ministérios e para grupos de todas as idades. Contudo, na igreja primitiva a ideia de ministérios especiais separados para homens, mulheres e crianças de todas as idades era desconhecida. A igreja era unida em todos os sentidos, e não fragmentada em todos os sentidos. A unidade familiar era mantida, e a responsabilidade espiritual dos pais era reforçada pela estrutura da igreja, ao invés de corroída por ela como tem acontecido na estrutura da igreja moderna.

Um prédio de igreja contribui ou atrapalha na formação de discípulos? Historicamente, a formação de discípulos pelos séculos obteve maior sucesso sem eles, e por muitos bons motivos.

Reunir em lares, como a igreja primitiva fez pelos primeiros três séculos, onde uma refeição cheia de alegria, ensinamentos, músicas e dons espirituais eram compartilhados provavelmente de três a cinco horas, proporcionou um ambiente para o crescimento espiritual genuíno dos crentes. Membros do corpo de Cristo se sentiam participantes, enquanto sentavam-se frente a frente, ao invés de como a audiência nas igrejas modernas se sente — como espectadores em um teatro, sentados olhando para a nuca dos outros, enquanto tentam não perder nada do show no palco. A atmosfera casual de uma refeição comum levou a transparência, a relacionamentos com uma preocupação autêntica e à comunhão verdadeira, que não tem comparação à “comunhão” moderna, que muitas vezes não passa de apertos de mão com os estranhos do próximo banco quando o pastor manda.

Os ensinamentos eram mais uma sessão de perguntas e respostas e discussões abertas entre iguais, ao invés de sermões dados por aqueles que usam roupas chiques, falam com vozes teatrais e ficam em um lugar mais alto que a educada (e várias vezes entediada) audiência. Os pastores não “preparavam um sermão semanal.” Qualquer um (com certeza incluindo os presbíteros/pastores/bispos) podia receber um ensinamento dado pelo Espírito Santo.

Quando uma casa ficava lotada, os diáconos não pensariam em obter um prédio maior. Ao invés disso, todos sabiam que tinham que se dividir em duas casas, e era só um problema de tempo para encontrar o querer do Espírito em relação a onde a nova reunião deveria acontecer e quem deveria administrá-la. Felizmente, eles não precisavam recolher currículos de estranhos e de teólogos de crescimento de igreja para examinar minuciosamente seu ponto de vista filosófico ou doutrinário. Já havia líderes entre eles, que tinham treinamento no trabalho e já conheciam os membros de seu futuro pequeno rebanho. Aquela nova igreja no lar tinha a oportunidade de lançar o evangelho em uma nova área, e demonstrar para os descrentes o que os cristãos eram — pessoas que se amavam. Eles podiam convidar os incrédulos para as reuniões tão facilmente como para as refeições.

O Pastor Abençoado (The Blessed Pastor)

Nenhum pastor/presbítero/bispo de igreja no lar sofria com o “esgotamento” ministerial por estar sobrecarregado de responsabilidades pastorais, algo que tem se espalhado na igreja moderna. (Um estudo mostrou que 1.800 pastores por mês têm deixado o ministério nos E.U.A.) Ele só tinha um pequeno rebanho para cuidar, e se esse rebanho suprisse suas necessidades financeiras para que o ministério fosse sua vocação, ele até tinha tempo para orar, meditar, pregar para os ímpios, ajudar os pobres, visitar e orar pelos doentes e gastar tempo de qualidade equipando novos discípulos para fazer todas essas coisas com ele. A administração da igreja era simples.

Ele trabalhava em uníssono com os outros presbíteros/pastores/bispos de sua região. Não havia disputas para ter “a maior igreja da cidade” ou competição entre pastores para ter “o melhor ministério de jovens” ou o programa “mais animado para crianças.” As pessoas não iam para as reuniões da igreja para julgar como a equipe de louvor tocou ou se o pastor tinha sido engraçado. Eles tinham nascido de novo e amavam Jesus e Seu povo. Eles amavam comer juntos e compartilhar os dons que Deus tinha lhes dado. Seu objetivo era obedecer a Jesus e estar pronto para comparecer ao Seu julgamento.

Com certeza, havia problemas nas igrejas nos lares, e estas estão enfocadas nas epístolas. Mas vários dos problemas, que inevitavelmente atormentam as igrejas modernas e atrapalham a formação de discípulos, eram desconhecidos da igreja primitiva, simplesmente porque seu modelo de igreja local era muito diferente do que evoluiu depois do terceiro século e desde a idade das trevas. Novamente, pense nesse fato: Não havia prédios de igrejas até o começo do quarto século. Se você tivesse vivido durante os primeiros três séculos, qual seria a diferença do seu ministério para o de agora?

Resumindo, quanto mais nos aproximarmos dos padrões bíblicos, maior será nossa efetividade em alcançar o objetivo de Deus de fazer discípulos. O maior empecilho na formação de discípulos nas igrejas hoje se origina de estruturas e práticas não-bíblicas.

 


[1] Parece bem claro que um pastor (o substantivo Grego é poimain, que significa pastor de ovelhas) é equivalente a um presbítero (o substantivo Grego presbuteros), e também é equivalente a bispo (o substantivo grego episkopos). Paulo, por exemplo, instruiu os presbíteros efésios (presbuteros), a quem ele disse que Deus tinha feito bispos (episkopos), para pastorear (o verbo grego poimaino) o rebanho de Deus (veja At. 20:28). Ele também usou os termos presbíteros (presbuteros) e bispos (episkopos) como sinônimos em Tt. 1:5-7. Pedro também exortou os presbíteros (presbuteros) a pastorear (poimaino) o rebanho (veja 1 Pd. 5:1-2). A ideia de que um bispo (episkopos) tem um cargo mais alto que o de um pastor ou presbítero, e que ele fiscaliza várias igrejas é invenção humana.

[2] A ênfase moderna nos líderes profissionalmente treinados é de várias formas um sintoma de uma doença maior, aquela que iguala o ganho de conhecimento ao crescimento espiritual. Nós pensamos que a pessoa que sabe mais é mais madura espiritualmente, enquanto na verdade pode ser menos, já que tem tando orgulho do que tem aprendido. Paulo escreveu, “conhecimento traz orgulho” (1 Co. 8:1). E com certeza a pessoa que escuta palestras entediantes todos os dias por dois ou três anos está preparada para dar sermões semanais entediantes!

[3] Na primeira carta de Paulo a Timóteo e em sua carta para Tito ele menciona deixá-los para apontar presbíteros/bispos a igrejas. Então, Timóteo e Tito teriam supervisionado esses presbíteros/bispos por algum tempo. Eles teriam, provavelmente, se encontrado periodicamente com os presbíteros/bispos para discipulá-los, como Paulo escreveu: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2 Tm. 2:2).

[4] Veja At. 2:2, 46; 5:42; 8:3; 12:12; 16:40; 20:20; Rm. 16:5; 1 Co. 16:19; Cl. 4:15; Fm. 1:2; 2 Jo. 1:10

[5] É notável que as cartas de Paulo às igrejas são endereçadas para todos nas várias igrejas, e não para os diáconos ou bispos. Em somente duas de suas cartas às igrejas ele menciona os presbíteros/pastores/bispos. Em um momento eles estão incluídos na saudação, adicionados como se Paulo não quisesse que eles se sentissem excluídos (veja Fp. 1:1). Em outro momento Paulo menciona pastores em uma lista de ministros que equipam os santos (veja Ef. 4:11-12). Também é especialmente notável como Paulo não menciona o papel dos presbíteros enquanto dá certas instruções que pensaríamos envolve-los, como a administração da ceia, e a resolução de conflitos entre cristãos. Tudo isso aponta para o fato que presbíteros/pastores não eram centralizados com o papel de importância que eles têm na maioria das igrejas modernas.

[6] Veja At. 2:2, 46; 5:42; 8:3; 12:12; 16:40: 20:20; Rm. 16:5; 1 Co. 16:19; Cl. 4:15; Fm. 1:2; 2 Jo. 1:10